O que faz a busca por uma transição de carreira alinhada ao impacto positivo socioambiental crescer cada vez mais?
O termo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) começou a ser utilizado pela liderança militar no mundo pós Guerra Fria e logo tomou lugar em livros de negócios, reuniões estratégicas e no discurso de executivos como forma de gerenciar um ambiente marcado por mudanças.
No entanto, a realidade social, política, cultural e tecnológica desde então mudou muito, principalmente nos últimos dois anos, período marcado pela pandemia do COVID-19. Se no passado falamos em incerteza e complexidade, imagina agora?
Por isso, se faz necessário um novo olhar, novas estratégias e formas de enxergar e levar a vida.
Estamos presenciando um tempo de enormes mudanças, em que o cenário não é volátil, e sim frágil, a incerteza deu lugar a ansiedade, mais do que complexos, somos não lineares e o ambiente que antes era ambíguo agora é incompreensível.
Um novo paradigma exige uma nova linguagem, assim o termo VUCA dá lugar ao BANI.
Talvez você não tenha ainda familiaridade com os termos mencionados acima, mas provavelmente nos últimos dois anos você foi atravessado pela fragilidade, ansiedade, pela não linearidade ou falta de explicação das coisas.
Foi (e de certa forma ainda está sendo) um período bastante desafiador e este novo contexto marcado pelo caos fez surgir um (não) movimento que vale a pena ser mencionado: paramos.
Sim, paramos. O mundo nos obrigou a parar e com isso criou a oportunidade de refletirmos sobre a nossa vida e nossas vocações.
O que estamos fazendo?
Como estamos vivendo?
Isso aqui faz sentido?
Olhar e questionar padrões nem sempre é fácil e exige muita coragem.
Por isso, convidamos a Katharina Maia para falar sobre o tema, compartilhando não só os seus questionamentos, mas a realidade que está por trás de uma transição de carreira.
“Transição de carreira
sobre empoderar-se de si mesmo
e ter coragem de viver uma vida com sentido
Para falarmos sobre transição de carreira precisamos fazer uma rápida viagem ao passado, na forma como nossos pais, avós e demais gerações lidavam com o trabalho. Passe um café, convide-os a sentar e falar sobre suas trajetórias profissionais. Eu já fui atravessada por histórias de todos os tipos e posso te dizer que elas compartilham alguns pontos em comum: estabilidade, crescimento, futuro, casa própria, trabalho duro, bom salário, aposentadoria, família, velhice e segurança.
Então, partamos do princípio de que esta seja a realidade de grande parte de uma geração: estudar, se especializando geralmente em uma única área, construir uma carreira sólida e consistente em determinado setor e empresa, conquistar o sonho da casa própria, casar e se firmar com outra pessoa por uma vida inteira, ter filhos, criá-los e envelhecer com a aposentadoria conquistada após tanto tempo de trabalho. Esse é um modelo de vida construído e conhecido por nós, mas será que só existe este formato possível? Será que a nossa vida precisa ser firmada nos passos já dados por quem veio antes de nós?
Quando ainda jovens já recebemos uma carga de expectativas, uma idealização do que devemos fazer, de quem devemos ser. E se nossos pais falam que este é o modelo certo a ser seguido, se olhamos para o lado e vemos todo mundo caminhando na mesma direção, porque fazer diferente? Bom, talvez você não tenha qualquer tipo de interesse em fazer diferente. O modelo atual faz sentido para você e pronto. Ótimo. Talvez essa matéria não bata diretamente com as suas necessidades atuais, mas eu te convido a continuar comigo até o final. No mínimo, eu posso te trazer alguns pontos de reflexão e questionamento. Eu digo isso, porque cruzo constantemente com pessoas que nem ao menos se permitem parar e olhar para a vida que estão levando, parece que estão simplesmente sendo carregadas pelo fluxo. Não só em relação ao trabalho, mas relacionamentos, saúde, prazeres. Pode ser mais fácil viver assim e sempre é uma opção.
A questão é quanto tempo você aguenta e as consequências disso.
Se você é uma dessas pessoas, pode ser que já esteja se contorcendo na cadeira, com vontade de fechar essa matéria e ler outra coisa que não te faça refletir sobre isso. Para você, especialmente, faço o convite de segurar um pouco e também ficar aqui. Pode não ser fácil olhar para certas coisas, mas vai que valha a pena? Por fim, você pode ser o tipo de pessoa que já tem consciência da vida que está levando, está incomodada com o modus operandi, mas não tem a mínima ideia do que fazer e como fazer. Te convido a colocar o cinto e se preparar para a jornada, não temos mais tempo a perder.
A minha transição começou olhando para a realidade que eu estava inserida e, aos poucos, tendo clareza do que já não fazia mais sentido. Esse processo por si só não foi fácil. Uma carreira leva anos para ser construída. Investimos tempo, dinheiro, criamos uma imagem, planos, expectativas e construímos uma visão de vida ideal.
Acontece que, assim como a natureza, nada na vida é permanente.
Por mais que eu tivesse adquirido experiência e uma relação ótima com o meu time, as atribuições, rotina e objetivos já não se encaixavam com a vida que eu almejava viver. Algo me faltava. Eu sentia um vazio e incômodo que permeavam os meus dias e se traduziam em tristeza, irritabilidade e dores de estômago. Não era possível aceitar que a minha vida inteira seria dedicada a algo que não me nutrisse e que não me fizesse sentir verdadeiramente útil e viva. Eu não tinha ideia qual seria o meu novo caminho, olhava para o lado e parecia não existir nenhuma saída de emergência, nenhum manual de instruções e a sensação que eu tinha é que todos estavam indo em outra direção.
Essa direção comum foi construída lá atrás, lembra? Com nossos pais, avós, seus pilares, visão de trabalho e sucesso. Ela carrega um modelo de vida ideal que tem influenciado não só a você, mas muitos que estão ao seu lado. E como falar em transição de carreira e uma possível mudança de vida, se já existe um caminho pré definido de sucesso? Para muitos, é inconcebível a ideia de mudança, de fazer diferente, se lançar ao novo.
Como assim largar engenharia e virar professora de yoga?
Você vai largar o direito e virar fotógrafa?
Quem seria capaz de abandonar o corporativo para construir uma carreira como autônomo?
Afinal, lembre-se que fomos criados no modelo ideal de segurança e estabilidade.
Assim tendo nos situado, preciso ser sincera e transparente com você sobre a minha história: não foi e nem está sendo fácil mudar. Não é fácil encarar o presente, assumir os aspectos da sua vida que não se encaixam mais e, principalmente, bancar a mudança perante a si e ao mundo.
É preciso ter coragem e muito autocuidado na construção de uma vida que faça sentido para você.
Opa. Mas porque autocuidado? A mudança de carreira leva tempo, mergulho, entendimento. Não é simplesmente sair de forma linear do ponto A ao ponto B. Existem barreiras internas como medo, insegurança, expectativas, cobrança, ansiedade… Eu posso seguir com um parágrafo inteiro sobre elas. E como falamos, pode ser que o seu mundo não compreenda e nem apoie a sua mudança, então existem todas as complexidades externas também. Por isso, autocuidado. Cuide de si e da sua transição de carreira com respeito, calma e carinho.
Já a coragem acontece como consequência de nos empoderarmos de quem realmente somos, da nossa força em mudar e agir perante a vida. É sobre construir uma relação íntima e de confiança a respeito de si mesmo, que faz com que as questões internas e externas que enfrentamos se tornem menos complexas e mais possíveis de lidar. Quando você está realmente convicto do seu desejo e intenção, os problemas viram apenas parte existente do processo e não barreiras que te impedem de mover. Apesar de não ter sido fácil, a transição de carreira me obrigou a olhar para dentro, encarar as minhas verdades e enxergar as minhas potencialidades, me amadurecendo e fortalecendo como pessoa e profissional.
Bom, pode ser que nesse ponto você já esteja se perguntando: e aí, a sua transição deu certo?
E eu volto a pergunta para você: o que é dar certo?
Se for recuperar o brilho no olhar, ter mais entusiasmo e sentir o coração bater mais forte com as inúmeras possibilidades que se abriram, sim, deu certo. Se for achar uma resposta definitiva, estar 100% segura, sem medo e ansiedade, não, não deu certo. Eu acredito que a vida seja feita de caminhos e cada um deles nos proporciona experiências, aprendizados e encontros diferentes, cada um com suas particularidades, belezas e desafios. Olhando por esse prisma, sinto que expandimos um pouco o modelo simplista de certo ou errado e nos tornamos mais flexíveis e abertos para as oportunidades que a vida oferece.
Lembre-se: é caminhando que se faz o caminho. Te desejo coragem, autocuidado e uma bela jornada por esse vida.”
Katharina Maia
https://www.linkedin.com/in/katharinamaia/
Como a própria Katharina menciona, estamos numa fase da humanidade que não cabe mais perceber o mundo a partir de uma visão simplista de certo ou errado. Essa mesma lógica se aplica quando pensamos na cultura organizacional de empresas e, em especial, na evolução do ESG dentro delas.
Estamos construindo um mundo em que as organizações não se preocupam somente com o sucesso do seu negócio, mas os impactos a ele inerentes.
A prática deste conceito tem evoluído tanto, que já é possível identificar a quarta onda ou o conhecido ESG 4.0, em que falamos a respeito no post do nosso blog.
Estamos caminhando para uma realidade em que cada uma das nossas ações, tanto como pessoas quanto como associações, instituições, organizações e empresas, pode ser feita de forma consciente e voltada para gerar e expandir impacto social e ambiental positivo e proativo.
Enfrentar os desafios deste século exige que abordemos as causas profundas das crises ecológica, social e espiritual, não apenas os sintomas. As mudanças profundas que são necessárias hoje exigem uma mudança em nossas qualidades e mentalidades internas como indivíduos e como sociedade para criar uma transformação externa em instituições e sistemas.
Por isso, precisamos contar com cada vez mais Katharinas. Pessoas que tem a coragem e a consciência necessárias para fazerem de suas carreiras um veículo de transformação da humanidade, sendo líderes conscientes e sendo assim a mudança que queremos ver no mundo!