ESG 4.0 – Uma nova realidade

Primeiro de tudo, podemos comemorar. Nesse exato momento em que você está lendo esse artigo, uma nova realidade já está instaurada na nossa sociedade. Uma realidade em que cada uma das nossas ações, tanto como pessoas quanto como associações, instituições, organizações e empresas, está sendo feita de forma consciente e voltada para gerar e expandir impacto social e ambiental positivo e proativo. 

E a melhor parte é que todo esse processo está sendo cada vez mais genuíno, mais verdadeiro, mais conectado com o que as pessoas pensam, sentem e dizem… porque simplesmente faz sentido, “feels right”, para todos e todas nós. Costumamos dizer que essa “onda”, que batia com cada vez mais força nas nossas encostas, finalmente veio em 2020 como um tsunami, destruindo um velho modo de agir e abrindo caminho para essa nova realidade irreversível. 

No mundo corporativo, esse tsunami recebeu o nome de ESG.

O que é o ESG?

Quando nos preparamos para adentrar em um novo território, o que nos guia é um mapa. E nesse novo território em que a expansão dos negócios se alinha intrinsecamente com a geração de impacto social e ambiental positivo e proativo, temos diversos mapas à nossa disposição. Entre eles estão o vasto campo da sustentabilidade, da responsabilidade social, do valor compartilhado, da base da pirâmide, dos negócios sociais, do social business, do investimento de impacto, do capitalismo consciente, das Empresas B, etc. Atualmente, um dos termos mais usados para se referir a esses mapas é o ESG.

Quando nos referimos ao ESG, estamos falando de uma expansão das fronteiras tradicionais do mercado corporativo. Estamos indo além da visão econômico-financeira de uma empresa, expandindo nossa compreensão de seu papel, de sua responsabilidade e de seu impacto social e ambiental no mundo. ESG, ou ASG em português, é uma sigla que se refere à agenda Ambiental (Environmental), Social e de Governança (tomada de decisões, transparência e integridade) de uma organização.

É como se, sem o ESG, fossemos descrever o valor de uma pessoa somente pelo seu salário e sua riqueza. E que esse fosse o elemento mais importante de todos. Para algumas pessoas, sem dúvida essa (ainda) é a medida de sucesso principal. Entretanto, essa medida é somente um recorte da realidade, é uma escolha feita por quem avalia. De modo que determinada pessoa vale mais do que outra por causa de sua riqueza material, deixando de lado sua vida pessoal, como ela age com seus filhos, como seu estilo de vida impacta o meio ambiente, o seu sofrimento e virtudes interiores, seus talentos artísticos e o bem-estar que isso traz.

Então o ESG amplia a compreensão do que é o valor de uma empresa, e do que é uma empresa como um todo. O ESG expande o leque de compreensão, o campo de visão, iluminando os outros cômodos de uma empresa, assim como em uma casa, enquanto só estávamos olhando para a sala de estar. Trazendo então não só o econômico-financeiro, mas os elementos sociais e ambientais intrínsecos à operação corporativa.

O ESG é um processo em evolução

Como todo movimento, o ESG é um processo em evolução. Isso significa que existe uma configuração atual e contemporânea do que é o ESG, assim como existem as suas versões anteriores, ou menos complexas, e as suas versões futuras, que são tendência e que são mais complexas e abrangentes. Cada uma dessas versões se complementa, de forma que uma nova versão transcende e inclui as anteriores, sem negá-las nem mesmo excluí-las. E em uma empresa, acontece o mesmo. As empresas evoluem em sua atuação com ESG gradualmente, constituindo assim o que definimos como os Níveis de Maturidade ESG de uma organização. A imagem e os textos a seguir explicam cada um desses níveis. 

Em resumo, esses seis níveis de maturidade representam formas de atuação complementares, que podem ser adotadas em diversas combinações e em momentos diferentes pelas organizações, mas que ao mesmo tempo apresentam uma lógica evolutiva de expansão de complexidade:

  • ESG 0.0 – Pontual: Ações de impacto social e ambiental são iniciativas isoladas e tipicamente filantrópicas, baseadas nas preferências pessoais da liderança, sem integração estratégica com a empresa.
  • ESG 1.0 – Institucional: O ESG é orientado por conformidade com leis e normas, com práticas implementadas em departamentos específicos, focando em “fazer o certo” conforme valores externos e internos.
  • ESG 2.0 – Estratégico: Integração do ESG às operações e estratégias de negócios, buscando resultados mensuráveis e alinhamento com a lucratividade, competitividade e crescimento da empresa.
  • ESG 3.0 – Inclusivo: Abordagem sistêmica e interdependente do ESG, focando nas relações da empresa com seu ambiente e território de atuação, incluindo stakeholders nas decisões e direcionamentos estratégicos.
  • ESG 4.0 – Integrado: Sustentabilidade/ESG é intrínseca à estratégia e essência do negócio, com impacto positivo como parte indissolúvel das atividades econômicas da empresa e uma gestão consciente e íntegra.
  • ESG 5.0 – Regenerativo: Nesse nível de maturidade, a organização atua como um organismo coletivo focado na evolução da sociedade e do planeta, sua existência sendo um catalisador essencial de regeneração.

A seguir, cada um desses níveis é aprofundado e explorado com maiores detalhes.

ESG 0.0  – Pontual: vontade unilateral de impactar positivamente uma causa familiar à liderança

A versão mais básica e elementar do ESG, ou o ESG 0.0, é aquela em que as ações de impacto social e ambiental positivos provém da vontade unilateral, e algumas vezes mesmo egóica, dos proprietários da empresa, alta liderança ou responsáveis diretos. A escolha com relação ao impacto gerado provém do campo de conhecimento dessas pessoas ou mesmo de uma experiência ou preferência pessoal por algum tema em específico. Em resumo, é o ESG com base na filantropia. Internamente, o ESG é normalmente estruturado via pontuais ou isolados, sem muita clareza nem integração de objetivos organizacionais.

Por exemplo, uma empresa que realiza doações mensais para um asilo de idosos, tendo a origem dessa ação na percepção de um dos proprietários que tem uma identificação com essa causa. Também se aplica a esse nível de ESG o foco prioritário e exclusivo aos colaboradores da organização. Trata-se de uma ação de impacto que não está necessariamente alinhada com a expertise ou operação da empresa e nem foi externamente identificada como uma demanda latente dos stakeholders da organização. 

ESG 1.0 – Institucional: alinhamento institucional para compliance e cumprimento de normas, regras e leis 

Em uma versão um pouco mais complexa, o ESG 1.0 amplia o escopo de visão do impacto positivo, integrando uma certa coletividade ao processo, e não mais se originando totalmente ou unicamente da perspectiva individual da liderança da organização.

Nesse nível, o ESG possui uma vertente institucional baseada em compliance, ou seja, em conformidade com regras, leis, regulamentos, normas, costumes ou culturas que influenciam fortemente uma organização. Entende-se aqui o ESG como o “certo” a se fazer, a partir de uma base de valores superior que está “acima” da empresa, seja pela legislação, pela cultura local, pela religião ou mesmo por valores internos inegociáveis da corporação.

Tipicamente o ESG se estrutura de forma departamentalizada, em um setor da empresa, como marketing, recursos humanos ou qualidade, ou mesmo em um setor específico, como Responsabilidade Social ou Sustentabilidade. Sua dinâmica acontece via processos e controles internos distribuídos em uma área ou entre as diversas áreas da organização com “boas” práticas e/ou ações específicas em resposta a crises imprevistas.

Um exemplo é a adequação de uma organização às legislações ambientais e sociais. Destacam-se aqui as empresas que assumem e incorporam as normas existentes mesmo quando elas não são obrigatórias, como a adesão ao programa Empresa Cidadã, ou não estão sendo amplamente implementadas mesmo tendo sido formalizadas em lei, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos e logística reversa. 

ESG 2.0 – Estratégico: foco estratégico em resultados reais e mensuráveis tanto econômicos quanto de impacto 

Integrando e transcendendo as duas versões de ESG anteriores, o ESG 2.0 define-se como um ESG de base essencialmente estratégica, com foco em resultados reais e mensuráveis tanto econômicos quanto de impacto.

Nesse nível, a empresa se relaciona com as questões sociais, ambientais e de governança a partir do prisma do negócio, de suas operações, de seu mercado, do seu market-share e de sua consequente lucratividade. O ESG inclui assim uma vertente essencial provinda da lógica econômica capitalista, que é o foco no resultado das ações realizadas. Esse foco no resultado traz um impulso muito positivo ao ESG, no sentido de que as ações a ele relacionadas devem gerar impacto positivo efetivo, real e mensurável, ou seja, categoricamente gerar resultado em si.

Por outro lado, essa perspectiva arrisca explorar alguns aspectos ESG com um objetivo unicamente mercadológico. Isso pode ser claramente visualizado nas primeiras versões do conceito e das práticas de Base da Pirâmide (BoP – Bottom of the Pyramid), que olhavam para a população de extrema baixa renda como um mercado consumidor inexplorado, justificando essa estratégia como “dando acesso a essas pessoas ao consumo de produtos que diferentemente não teriam como adquirir”.

Uma segunda versão do modelo BoP já considerava a inclusão dessas pessoas na cadeia de valor, formando-os como fornecedores ou distribuidores, por exemplo, e criando assim condições perenes e sustentáveis de crescimento e desenvolvimento econômico das famílias. Essa segunda versão já se baseia em uma versão mais “saudável” do modo de pensar sistemático do ESG 2.0. Essa versão do ESG está no âmago dos típicos conceitos de responsabilidade social corporativa, das primeiras versões de valor compartilhado (shared value) e de investimento social privado, por exemplo.

Compreender o nível de maturidade atual do ESG facilita drasticamente o planejamento e desenvolvimento organizacional, e permite definir uma estratégia ESG e um plano de ação que sejam alinhados com a realidade corporativa. Tomemos como exemplo uma grande startup com um C-Level totalmente focado em resultado financeiro e performance como visão pessoal e profissional, e que tem um nível de maturidade 1.0 com “caminho aberto” para o 2.0. A postura mais coerente nesse caso seria potencializar os resultados organizacionais a partir da implementação de uma Estratégia ESG integrada ao negócio, cultura e impacto dentro da visão de mundo que orbita entre 1.0 e 2.0. À medida que a empresa ganha mais consciência sobre o ESG e o traz intencionalmente para sua estratégia corporativa por meio de processos e procedimentos 1.0, abre assim espaço e vontade para trilhar o caminho em busca da maturação de um ESG 2.0 – Estratégico, possibilitando assim no futuro uma migração gradual para um ESG 3.0 – Inclusivo.

ESG 3.0 – Inclusivo: visão sistêmica e interdependente do impacto e presença de uma organização

O ESG 3.0, por sua vez, representa um grande avanço em relação às versões anteriores, expandindo o campo de visão e de compreensão com relação aos aspectos ambientais, sociais e de governança, , se baseando em uma visão sistêmica e interdependente do impacto e presença de uma organização em seu ambiente e território de atuação.

O foco de atenção migra de dentro da empresa para fora, ou seja, para as dinâmicas de relação entre a organização e o contexto no qual ela está inserida, seja esse no âmbito local, territorial, nacional e mesmo global. Isso significa que essa versão de ESG tem uma base sistêmica e pluralista, considerando que somos todos interdependentes nesse planeta. Trata-se da compreensão genuína e verdadeira de que nem uma empresa nem uma pessoa existem sem o meio-ambiente no qual estão inseridas, e ninguém se mantém completamente saudável em um ecossistema doente.

Na prática, o ESG 3.0 anuncia uma mudança radical na lógica corporativa, que supera a prioridade do capital e do acionista (shareholder) acima de tudo, e os integra como mais um elemento e mais um ator a ser considerado entre as diversas partes interessadas (stakeholders) da organização. Ou seja, colaboradores, suas famílias, comunidades do entorno, a natureza com sua fauna e sua flora, fornecedores, clientes, acionistas, cidadãos e todos os demais componentes da nossa sociedade têm suas demandas e interesses considerados como legítimos e considerados na tomada de decisão organizacional. Isso é o que se entitula atualmente como Governança de Stakeholders.

Dessa forma, entende-se que os projetos ambientais e sociais são estratégias e práticas essenciais para a perenidade, desenvolvimento e expansão dos negócios de uma empresa. Movimentos e metodologias representativas do ESG 3.0 são os modelos mais avançados de valor compartilhado (shared value) e de negócios inclusivos, alguns casos avançados de capitalismo consciente e grande parte do movimento global das Empresas B, por exemplo, assim como as ferramentas de Dupla Materialidade e de Objetivos Aspiracionais.

Essa versão do ESG 3.0 foi extremamente favorecida, impulsionada e difundida globalmente a partir de 2020 e principalmente 2021, durante a pandemia da Covid-19. Essa aceleração foi tão intensa a ponto de o termo ESG ser hoje considerado o “substituto” natural do conceito de sustentabilidade, que previamente havia “substituído” o conceito de responsabilidade social corporativo no mundo dos negócios.

Entretanto, mesmo essa compreensão mais sistêmica e pluralista do ESG não se mostra suficiente ou capaz, por si só, de solucionar os desafios sociais, ambientais, econômicos e culturais presentes no mundo atualmente. Cada uma das versões anteriormente descritas de ESG é importante e necessária para encontrar soluções sustentáveis e duradouras para tais mazelas. No entanto é crucial entender que sua real efetividade depende de sua adequação ao ambiente no qual são implementadas.

A título de ilustração, dificilmente uma solução de nível ESG 3.0 terá um impacto considerável em determinado território se não houver nenhuma legislação mínima que suporte práticas ambientais e sociais responsáveis, que são tipicamente do nível 1.0 do ESG, baseado em compliance e conformidade. Dessa forma, cada uma das versões de ESG se desenvolve com base em suas predecessoras, incluindo, melhorando, evoluindo e transcendendo-as naturalmente. 

ESG 4.0 – Integrado: sustentabilidade integrada à estratégia e essência do negócio de forma consciente e integral

Assim compreendemos o surgimento, emergência e urgência do ESG 4.0, que é definido como o ESG de base integral e consciente. Neste nivel, a sustentabilidade é completamente integrada à estratégia e à essência do negócio.

A sua principal evolução, com relação às versões anteriores, é que o impacto positivo e proativo de uma empresa, seja nos aspectos ambientais, sociais e de governança como em outros como culturais, políticos e tecnológicos, é intrínseco e indissolúvel de seus negócios e atividades econômicas. Isso significa que uma organização não possui somente uma gama de processos, produtos ou serviços certificados (fairtrade, orgânico, LEED, FSC, Rainforest Alliance, etc.) ou adota práticas e projetos de cunho social e ambiental, mas, além disso, incorpora, em todas as instâncias do negócio, a intenção, o propósito e o compromisso de gerar impacto positivo real e mensurável.

Em termos simples, quanto mais a empresa expande seu negócio, mais ela gera impacto positivo, porque essa é a natureza e a essência de suas atividades. Tomemos como exemplo, entre muitos outros, o caso da Guayaki, que produz e vende produtos de erva-mate via um modelo de negócio completamente regenerativo, protegendo e regenerando a mata atlântica e suas comunidades na América do Sul. Ou seja, o ESG é totalmente integrado e incorporado em todos os aspectos da organização, se tornando inclusive uma indissociável plataforma impulsionadora de seu crescimento, lucratividade e abundância. 

E esse é justamente o grande salto evolutivo que o ESG 4.0 traz com relação às versões anteriores. Do ESG 0.0 ao ESG 3.0, o entendimento fundamental é que, embora o objetivo principal de uma empresa seja ser lucrativa, não há qualquer razão válida para que essa empresa também não se esforce para usar sua posição de poder e recursos para melhorar o mundo enquanto o faz. A evolução para o ESG 4.0 significa compreender que o objetivo, a missão e o propósito principal de uma empresa é essencialmente contribuir para que o mundo se torne cada vez melhor para os seres que nele habitam. Trata-se assim de um paradigma completamente novo no mundo dos negócios e da economia, onde o conceito de sucesso é ressignificado no sentido de promover o bem-estar das pessoas, do meio-ambiente e da sociedade.

Essa perspectiva constitui inclusive a base fundamental do movimento das Empresas B e inspira todas as vertentes mais recentes sobre a evolução das organizações, como, entre outras, a perspectiva integral do Reinventando Organizações e o movimento do Capitalismo Consciente. Esse último, ademais, na sua melhor versão reforça a essência do ESG 4.0 ao assegurar que o capitalismo vivido de forma consciente constitui uma forma de pensar sobre os negócios “que melhor reflete onde estamos na jornada humana, o estado de nosso mundo hoje e o potencial inato dos negócios para causar um impacto positivo no mundo”. 

Efetivamente, tudo isso somente se torna realidade se toda a empresa, e principalmente seus proprietários, acionistas e alta liderança, atuarem de forma verdadeiramente consciente.

Nessa versão genuína de ESG 4.0, as empresas estão ativamente engajadas em uma jornada contínua de autoconsciência. Elas não mais operam da premissa de que existem para potencializar seus resultados financeiros acima de tudo, filosofia que é fortemente presente nas versões 2.0 e anteriores do ESG, e transcende a perspectiva de que os acionistas e proprietários são mais um stakeholder a ser considerado, incluído e legitimado, típica do ESG 3.0. Mais do que isso, no ESG 4.0 a própria existência da organização e a essência do seu modelo de negócio estão intimamente atreladas a um conjunto amplo de stakeholders, tanto “internos” quanto “externos”.

Na realidade, a consideração de entre quem “faz parte” da organização supera a distinção ilusória entre quem “está dentro” ou “fora” das fronteiras da empresa. Essas fronteiras simplesmente não fazem sentido no modelo organizacional 4.0. O que existe é um conjunto de stakeholders, sejam eles acionistas, empregados, fornecedores, distribuidores, clientes, ativistas, vizinhos ou beneficiários que fazem parte indissociável do modelo de negócio.

Tomemos como exemplo o caso da Patagônia, uma das maiores empresas ativistas do mundo, e uma das que mais teve sucesso em integrar (ou que teve sucesso justamente por integrar) seu business à uma causa de transformação positiva global. Segundo a própria empresa, “nós reconhecemos que toda a vida na Terra está sob ameaça de extinção; estamos usando os recursos que temos – nosso negócio, nossos investimentos, nossa voz e nossa imaginação – para fazer algo a respeito”. Ela nasceu de uma comunidade de escaladores e surfistas, amantes da natureza, e foi gradualmente expandindo sua atuação com foco em representar os valores de todas as comunidades que compartilham desse mesmo anseio.

E por mais paradoxal que possa parecer, se constituiu como uma prestigiada empresa de vestuário de alta qualidade e que, ao mesmo tempo, advoga pelo minimalismo, ou seja, pelo consumo consciente, circular e reparador. O planeta como um todo, e todos os seres que nele habitam, fazem parte inseparável da filosofia de negócio da Patagônia. O que ultimamente resultou no compartilhamento da quase totalidade da propriedade da empresa para a sociedade civil e o planeta, criando assim um precedente extraordinário na história do mundo corporativo.

Ao integrar essa expansão de consciência e diluir as fronteiras ilusórias entre a empresa e o contexto no qual ela está inserida, o ESG 4.0 abre caminhos previamente inimagináveis de inovação, crescimento e impacto que podem ser gerados pelas organizações.

O que está por vir? ESG 5.0: Regenerativo

Essas cinco versões do ESG – de base unilateral (0.0), compliance (1.0), econômica (2.0), sistêmica (3.0) e integral/consciencial (4.0) – traduzem o amplo universo atual do campo do ESG no mundo. Todas elas coexistem, contribuindo com aspectos cruciais da agenda ESG que se complementam, se incluem e ao mesmo tempo transcendem umas às outras em uma hierarquia de maior complexidade, também definida como uma holarquia.

A partir desse entendimento, compreende-se que naturalmente existe uma evolução premente em curso para um emergente ESG 5.0. Este, que está se materializando gradualmente no momento presente, se constitui como um ESG Regenerativo, de base consciencial holística.

Nesse âmbito, uma empresa basicamente existe como um organismo coletivo à serviço da evolução das pessoas, de toda a sociedade, do planeta e assim por diante. Ocorre assim uma importante mudança na sabedoria sobre a existência de uma organização, pois há uma migração da sua identidade individual para uma identidade completamente coletiva, não mais limitada às suas “fronteiras” tradicionais. Tanto os negócios, as diretrizes estratégicas quanto a própria estrutura se moldam às oportunidades de expandir seu impacto positivo e de solucionar desafios locais, regionais e globais da humanidade. A missão, razão de existência ou propósito se configura na verdade a partir de uma proéxis organizacional, ou seja, uma atuação existencial específica voltada para otimizar o processo evolutivo da nossa sociedade.

Um exemplo poderia ser a eclosão de um importante conglomerado corporativo que tem como finalidade essencial (proéxis organizacional) reduzir a lacuna da desigualdade social em diversos países, por meio de negócios, parcerias e advocacy, de modo a elevar as oportunidades de desenvolvimento, crescimento e evolução de pessoas de todas as camadas socioeconômicas. Nesse nível, o “ESG” na realidade praticamente não existe, porque os aspectos ambientais, sociais, de governança e demais são evidentemente intrínsecos à existência da organização, e ainda mais, constituem a base fundamental sob a qual e porque ela opera.

Basicamente, no “ESG 5.0”, o próprio conceito de economia migra do “foco em garantir a sobrevivência, a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, do meio-ambiente e da sociedade” para  “a co-construção da nossa própria evolução e do futuro que emerge, sempre, nesse instante”. 

Como atuar com ESG? O nível de maturidade de uma organização conforme a escala da We.Flow

Todas essas seis versões de ESG, do 0.0 ao 5.0, são meta-modelos ideais, que resumem a essência do nível de complexidade do ESG que está presente em uma organização. Raramente uma empresa atuará seguindo perfeitamente e unicamente as características de somente uma dessas versões.

Existem ondas e variações dentro da cada um desses seis meta-modelos, e, na prática, adotam-se modelos e práticas diversas relacionadas a essas várias vertentes, de acordo com a realidade, mindset e possibilidades de cada organização.

Uma empresa pode, por exemplo, ter 5, 8, 10, 20 ou mesmo 64 ou mais eixos de atuação do ESG dentro de sua estratégia, cultura, liderança e processos. Entretanto, mesmo que essa pluralidade seja efetivamente o que se encontra no mundo corporativo, toda organização que atua com ESG acaba tendo um “centro de gravidade” em uma dessas versões.

Por exemplo, apesar de ter o centro de gravidade do seu ESG na versão 4.0, a Patagônia ainda possui uma estrutura formal de governança tipicamente corporativa (2.0) mas que considera, evidentemente, os interesses de diversos stakeholders como fundamentais em seu processo decisório (3.0), com um propósito totalmente direcionado ao ESG Restaurativo (4.0) e Regenerativo (5.0). O caminho não é procurar se adequar perfeitamente a uma dessas versões, muito menos objetivar “implementar a versão mais avançada possível de ESG”, mas de costurar a jornada de ESG gradualmente, de modo que o negócio, a estrutura, os processos, a cultura, a liderança e o impacto positivo e proativo se desenvolvam de forma harmônica e sustentável.

A importância desse entendimento prático sobre as versões do ESG é muito mais urgente do que um mero exercício conceitual. Essa agenda, apesar de parecer provir de um certo “modismo” e mesmo ser muito recente no Brasil, já está consideravelmente desenvolvida na esfera de alguns dos países mais prestigiados do G-20, sendo que em alguns casos certos elementos do formato de atuação do ESG 4.0, que integra impacto e negócio de forma indissociável, estão sendo pontualmente incorporados em legislações e normativas referentes à atuação empresarial dentro de alguns setores e países.

Isso significa que para uma empresa que deseja expandir sua atuação, seja regionalmente, nacionalmente ou internacionalmente, a incorporação genuína do ESG se torna uma condicionante essencial. Essa realidade é tão premente que ausências, falhas ou lacunas na adoção dessa agenda, como as práticas de greenwashing, socialwashing ou mesmo rainbowwashing (este relativo aos 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), são hoje um dos maiores e mais impactantes riscos corporativos em todas as esferas da economia. O ESG “europeu” já se encontra em um patamar evolutivo significativo, e serve como uma prévia de como essa agenda evoluirá rapidamente no contexto brasileiro, principalmente para as empresas de alta performance e em expansão. 

E tudo começa… pelo começo. Sua organização nunca atuou com ESG e deseja começar essa jornada? Que tal iniciar implementando um ESG de base 0.0 e 1.0, ou mesmo 2.0? O impacto positivo que será gerado em consequência sem dúvida alguma será maior do que tem ocorrido nos anos anteriores, e o caminho estará sendo pavimentado para a estruturação de um ESG consciente, integrado e sustentável.

Ou sua empresa já atua com ESG e deseja avançar para um novo nível, de forma alinhada e que sirva de alavanca para a expansão de seus negócios? Compreender as dinâmicas das versões e ondas do ESG facilitam drasticamente o planejamento e desenvolvimento organizacional nesse sentido. Ou quem sabe talvez o objetivo seja principalmente organizar ou mesmo ampliar o impacto ambiental e social positivo da corporação.

Novamente, um claro diagnóstico do nível de ESG atual favorecerá a compreensão das diversas possibilidades de expansão desse impacto. Independente de qual for a realidade de sua organização, convidamos você a entrar em contato conosco sobre o ESG 4.0  e saber mais detalhes sobre como implementar o ESG e quem sabe mesmo se tornar uma empresa certificada em ESG. 

Ainda mais, no nível individual e pessoal, você quer saber como esses níveis de ESG estão presentes em sua forma de pensar atual? Faça o teste dos níveis de consciência e compare seus resultados com essa legenda: ESG 0.0 (vermelho), ESG 1.0 (azul), ESG 2.0 (laranja), ESG 3.0 (verde), ESG 4.0 (amarelo) e ESG 5.0 (turquesa).

Seja bem vindo à nova era do ESG !

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Paulo Cruz Filho

Paulo Cruz Filho atua com impacto social, liderança integral, espiritualidade & business e expansão da consciência humana e dos negócios. Co-Fundador & Soul of Flowing da We.Flow – Together for a Better World, uma empresa B internacional voltada à expansão de consciência e de impacto de pessoas, comunidades, organizações e empresas. Atua internacionalmente pelo B Lab Global como Global Community Program Manager. Ex-Presidente do Comitê de ESG do World Trade Center Brasil Sul. Co-Fundador da AUDA – Business com Propósito & Alma. Co-Fundador da Integral Works – Business and Human Evolution. Host do Betterness Podcast. PhD em gestão estratégica de empresas sociais pela UQAM – Université du Québec à Montréal no Canadá. Autor dos livros “Liderança Integral. A Evolução do Ser Humano e das Organizações” e “Empreendedorismo Social e Inovação Social no Contexto Brasileiro”. Fundador e coordenador do programa executivo Integral Leadership Program e da pós-graduação em Empreendedorismo e Negócios Sociais na FAE Business School. Pai da Julie (5) e do Frederico (2).

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