O fim da Diversidade Corporativa?

A diversidade, equidade e inclusão (DEI) são pilares estratégicos para empresas que buscam inovação, competitividade e sustentabilidade

Contudo, o avanço dessas pautas tem enfrentado resistências políticas significativas, especialmente em contextos onde governos ou movimentos conservadores têm buscado desmantelar políticas inclusivas. 

Este artigo aprofunda o tema, destacando os benefícios comprovados da diversidade e os riscos enfrentados por empresas que cedem a pressões contrárias.

Resistência Política à Diversidade

Movimentos contrários à diversidade corporativa não são meramente econômicos ou administrativos, eles têm raízes políticas e ideológicas profundas. 

Nos Estados Unidos, o governo Trump lidera uma cruzada contra políticas de DEI, e empresas como Meta, McDonald’s e Walmart, reduziram ou abandonaram iniciativas inclusivas. Essa postura reflete um alinhamento ideológico que busca deslegitimar a diversidade como uma “imposição cultural”, usando-a como arma política para angariar apoio de setores conservadores.

Entretanto, o cenário brasileiro é diferente.

Nosso arcabouço jurídico é mais robusto em relação à promoção da igualdade, com leis como a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência e a Lei da Igualdade Salarial

Recentes decisões do Supremo Tribunal Federal também mostram um alinhamento muito maior com políticas de diversidade, como a decisão que prorroga lei de cotas raciais em concursos públicos.

Isso quer dizer que não há risco jurídico para empresas brasileiras que adotam políticas de inclusão. Na verdade, o artigo 373-A da Consolidação das Leis Trabalhistas prevê que se façam medidas para corrigir distorções de igualdade.

“Art 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado: 

III – considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportunidades de ascensão profissional.”

Logo, não havendo riscos jurídicos da adoção de medidas que promovem organizações mais justas e equitativas, podemos nos aprofundar nos diversos benefícios trazidos por esse movimento.

Benefícios da Diversidade e Inclusão

Ignorar ou combater a diversidade é uma escolha política e uma decisão que nega evidências sobre seus benefícios. Estudos demonstram que empresas diversas são mais inovadoras, produtivas e lucrativas:

Então, o que mudou?

É natural que a movimentação de grandes empresas influencie o ecossistema de negócios global. A preocupação de que o enxugamento ou mesmo o encerramento das ações de diversidade realizadas por empresas estadunidenses transnacionais alcancem suas subsidiárias em outros países é completamente válida.

Para as que podem tomar suas decisões de maneira autônoma, faz-se necessário compreender profundamente as razões pelas quais se decide investir em diversidade, a fim de que a polarização política não torne esse movimento volátil e superficial. Em momentos como esse, em que a obtenção de direitos equitativos por populações historicamente marginalizadas é colocado em xeque, eleva-se ainda mais a necessidade de posicionamento das organizações.

Não há contestação sobre as evidências em relação aos benefícios da diversidade por novas pesquisas ou dados. O que ocorre é uma simples descredibilização da perspectiva inclusiva e seus impactos nas organizações por meio de discursos e narrativas limitadas. 

Muitas dessas narrativas, inclusive, vêm carregadas de vieses inconscientes, que afetam nosso julgamento e intensificam a desigualdade.

Organizações e lideranças que sustentarem suas ações têm a oportunidade de provar que são genuínas, que vão além de um “Woke-washing” (promover ações apenas para ganhar a simpatia dos consumidores e investidores) e, assim, fortalecer sua reputação.

Os Riscos de Recuar nas Políticas de Diversidade

Empresas que cedem ao movimento anti-diversidade enfrentam riscos significativos:

  1. Impacto Reputacional: Decisões contrárias à inclusão podem prejudicar a imagem pública da empresa, especialmente entre consumidores atentos às práticas sociais responsáveis.
  2. Perda de Talentos: Profissionais de grupos sub-representados podem se sentir desvalorizados ou excluídos, aumentando a rotatividade e dificultando a retenção de talentos qualificados.
  3. Redução da Inovação: Equipes menos diversas tendem a ser menos criativas e adaptáveis às demandas do mercado globalizado.

Uma Necessidade Estratégica

A diversidade não é uma “modinha” ou tendência passageira, é uma questão de justiça social e uma necessidade estratégica para empresas que desejam se sustentar no longo prazo. A agenda ESG (ambiental, social e governança) reforça essa perspectiva ao conectar práticas inclusivas à sustentabilidade financeira das organizações. 

Empresas como a Apple e a McKinsey continuam reafirmando seu compromisso com DEI, mesmo diante das pressões contrárias.

No Brasil, iniciativas como as da Petrobras, que ampliou benefícios para pessoas trans, demonstram que investir na inclusão gera impacto positivo tanto interno quanto externo. Além disso, tendências como a inclusão geracional e neurodiversidade indicam novos caminhos para expandir práticas inclusivas até 2025.

Conclusão

O movimento contrário à diversidade é político, e busca manipular narrativas para justificar retrocessos sociais. Empresas que cedem a essas pressões ignoram evidências concretas dos benefícios da inclusão para inovação, produtividade e lucratividade. 

Na We.Flow, acreditamos que, mais do que nunca, é essencial que as organizações estejam conscientes de que promover a diversidade e criar ambientes inclusivos para todas as pessoas é uma atitude moral e estratégica, protegida por lei, e benéfica para as pessoas e para os negócios.

Empresas que resistirem ao backlash vigente estarão melhor posicionadas para atrair talentos, inovar e prosperar. Afinal, como demonstram os dados: investir na pluralidade não apenas melhora resultados financeiros, como também transforma organizações em agentes ativos de mudança social positiva preparadas para o futuro.

Foto de Marina Sperafico

Marina Sperafico

Marina tem mais de 12 anos de experiência em ONGs, governo, startups e grandes corporações. É fundadora da Shift, empresa que influencia transformações em JEDI – justiça, equidade, diversidade e inclusão de dentro para fora, e do Representa, iniciativa de promoção da inclusão racial na educação superior. Idealizou e liderou a campanha de equidade de gênero #ComVocêEuJogoMelhor, reconhecida pela ONU Mulheres, El Ojo e TrendWatching. É ganhadora do Betty Scharf Prize de melhor dissertação em Gênero e Religião LSE 2020. Possui mestrado em Gênero, Desenvolvimento e Globalização pela London School of Economics and Political Science através da bolsa Chevening. É Certificada em Negociação e Liderança pela Stanford Graduate School of Business, Especialista em Negócios Digitais, MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e Bacharel em Relações Internacionais.

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