A Avaliação de Impacto tem se consolidado como uma ferramenta indispensável para organizações que buscam compreender e amplificar suas ações de impacto positivo.
Na We.Flow, acreditamos que o verdadeiro valor do impacto está para além dos números; ele está nas histórias e contextos que esses dados revelam. É nesse equilíbrio entre o mensurável e o intangível que encontramos o potencial para promover mudanças realísticas.
Estamos vivendo em um momento guiado por dados, em que enormes volumes de informações quantitativas são coletados e analisados diariamente para embasar decisões, em diversas esferas, e até em nossas rotinas cotidianas. Os dados quantitativos são de extrema importância, mas eles possuem limitações.
Diante disso, surge a necessidade de ir além dos números, valorizando aquilo que escapa às métricas tradicionais: as relações humanas e os tecidos sociais. Enfrentamos hoje uma crise de conexão que nos desafia a repensar os vínculos que sustentam nossas comunidades e moldam nossas interações. Talvez a resposta para muitos dos problemas que enfrentamos esteja no fortalecimento dessas conexões e na valorização do que nos torna genuinamente humanos.
Neste artigo, exploraremos três tendências que podem remodelar a forma como avaliamos impacto. Essas abordagens mostram como podemos alcançar resultados mais significativos, combinando dados com narrativas humanas, promovendo uma interpretação que é, ao mesmo tempo, analítica e profundamente conectada às realidades sociais.
1. Warm Data
O conceito de Warm Data, criado por Nora Bateson, vai além das métricas tradicionais ao explorar as inter-relações que integram elementos de sistemas complexos. Diferente dos dados quantitativos, frequentemente chamados de “dados frios”, o Warm Data traz uma dimensão qualitativa que amplia nossa capacidade de análise e compreensão.
O que é Warm Data?
Warm Data são informações que ajudam a entender as conexões e inter-relações que mantêm um sistema funcionando como um todo. Diferente dos dados tradicionais, que costumam medir partes isoladas de um problema, o Warm Data olha para as correlações dos aspectos qualitativos – ou seja, como as coisas se conectam e influenciam umas às outras.
Essa abordagem mensura além dos números e busca compreender a dinâmica entre pessoas, contextos e elementos de um sistema ao longo do tempo. Assim, oferece uma visão mais completa e integrada da realidade, essencial para lidar com questões complexas e regenerativas.
Por que Warm Data é importante?
A análise de dados exclusivamente quantitativos pode ser redutora, pois ignora os contextos e as relações que dão sentido a esses números. O Warm Data nos ajuda a compreender essas interdependências, oferecendo uma perspectiva mais rica e alinhada à realidade.
Em vez de tomar decisões baseadas em dados desconectados da totalidade do sistema, essa abordagem permite navegar por territórios onde a interação humana, o ambiente social e as dinâmicas culturais são fundamentais. Ela atua como uma bússola, evitando conclusões simplistas e possibilitando ações mais sensíveis às complexidades dos sistemas sociais.
Exemplo prático
Ao avaliar um projeto de combate à evasão escolar, uma abordagem tradicional poderia medir apenas taxas de matrícula e frequência. Já o Warm Data consideraria fatores inter-relacionados, como:
- A percepção dos alunos sobre o ambiente escolar.
- O impacto das condições de trabalho dos professores na qualidade das aulas.
- As pressões econômicas e culturais enfrentadas pelas famílias.
Essa análise permitiria compreender como essas dinâmicas influenciam a decisão de abandonar os estudos, gerando soluções mais abrangentes e eficazes.
2. Avaliação Desenvolvimental (DE)
A Avaliação Desenvolvimental (AD) é uma abordagem que apoia iniciativas de mudança social em contextos complexos e incertos. Concebida por Michael Quinn Patton, essa metodologia oferece uma forma de avaliar projetos, programas e intervenções que demandam flexibilidade, aprendizado contínuo e adaptação em tempo real.
O que é Avaliação Desenvolvimental?
Tradicionalmente, a avaliação de impacto se concentra nos processos e resultados para descobrir se o programa gerou mudanças positivas. Para que isso ocorra, insumos, atividades e resultados devem ser estabelecidos e acordados pelos envolvidos para que seja possível medir adequadamente a eficácia do programa.
A avaliação desenvolvimental (AD) é uma forma estruturada de monitorar, avaliar e fornecer feedback sobre o desenvolvimento de um projeto ou programa enquanto ele está sendo concebido ou modificado; ou seja, em casos em que insumos, atividades e resultados ainda podem não ser conhecidos ou podem estar em um estado de constante mudança. A AD busca enfrentar os desafios de avaliar nesse contexto, permitindo uma abordagem mais responsiva e adaptável.
Como funciona na prática?
A AD é uma abordagem baseada no princípio de que uma avaliação deve ser julgada pela sua utilidade para os usuários a quem se destina.
Em vez de avaliar um programa para determinar se os recursos estão sendo gastos como deveriam, a avaliação desenvolvimental ajuda a responder perguntas como:
- Estamos agindo conforme falamos?
- Estamos sendo fiéis à nossa visão?
- Estamos lidando com a realidade?
- Estamos conectando a realidade do presente à nossa visão?
- Como sabemos disso?
- O que estamos observando que é diferente, que está surgindo?
Exemplo prático
Ao colaborar com uma ONG que promove o empreendedorismo entre jovens em situação de vulnerabilidade, podemos utilizar a AD para identificar rapidamente que as necessidades dos participantes mudam conforme o programa avança. Inicialmente, os jovens podem precisar de suporte básico em gestão financeira, mas, com o tempo, podem passar a demandar redes de mentoria e apoio emocional. Essa percepção permite que o programa seja ajustado em tempo real, aumentando significativamente o impacto final.
3. Mapas de Resultados
Tessie Catsambas adaptou o conceito de Mapeamento de Resultados¹, uma ferramenta que conecta resultados de parceiros e a qualidade das atividades realizadas. Essa abordagem mede os impactos diretos, além de fortalecer alianças estratégicas.
O Mapeamento de Resultados ajuda a identificar os parceiros-chave, definir seus papéis e articular como a organização pretende influenciá-los, chamando-os de parceiros de fronteira. Ao posicionar esses parceiros no processo, a organização consegue refletir sobre o valor que eles agregam, suas vantagens e sua identidade. Além disso, essa abordagem facilita a conexão entre o foco principal da organização (core business) e sua estratégia de advocacy.
¹ O Mapeamento de Resultados (Outome Mapping) é um sistema de mensuração do progresso do projeto concebido pela organização International Development Research Centre (IDRC).
Por que isso faz diferença?
Parceiros são parte essencial de qualquer projeto de impacto. Medir os avanços de parceiros ajuda a identificar sinergias e oportunidades de advocacy que fortalecem os resultados globais.
Ele se diferencia das métricas tradicionais por focar na mudança de comportamento dos beneficiários secundários, e não apenas em entregas e seus efeitos diretos. O mapeamento de resultados envolve uma fase inicial de planejamento, seguida por um ciclo contínuo de monitoramento. É ideal para organizações que atuam com mudanças em sistemas complexos e ambientes dinâmicos, embora tenha sido criado para avaliar o impacto de pesquisas em países em desenvolvimento.
Com o Mapeamento de Resultados, as organizações podem dialogar com suas equipes e stakeholders para identificar:
- Esfera de interesse: os resultados alinhados à sua missão e visão, ou seja, as grandes transformações sociais desejadas.
- Esfera de influência: os resultados esperados no comportamento e ações dos parceiros-chave.
- Esfera de controle: os resultados ligados à qualidade e efetividade das atividades e serviços oferecidos diretamente pela organização.
Esse processo ajuda a esclarecer suas crenças e pressupostos sobre como as mudanças sociais pretendidas serão alcançadas, revelando sua teoria da mudança.
Exemplo prático
Ao trabalhar com uma rede de escolas, podemos mapear como as ações conjuntas com ONGs locais aumentaram o acesso de crianças com deficiência às salas de aula. O mapa revela não só a eficácia da parceria, mas também áreas para ampliar a colaboração.
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A Avaliação de Impacto pode deixar de ser apenas uma ciência de dados para se tornar uma arte de contar histórias. Ao adotar metodologias mais adaptadas a sistemas complexos como Warm Data, Avaliação Desenvolvimental e Mapas de Resultados, podemos liderar essa transformação, ajudando organizações a enxergar além dos números.
Na We.Flow, acreditamos que fortalecer as conexões humanas e institucionais é tão crucial quanto medir os números finais.
Se você busca mais do que gráficos e tabelas, e deseja explorar as histórias de impacto que sua organização pode contar, entre em contato.