“Em cada célula do meu ser vive a potência do Universo. Além disso, cada célula do meu corpo é permeada pelo impulso de ser essa potência. E sendo essa potência, eu permito que meu ser e o que eu faço em minha vida se desdobrem e se manifestem de uma forma intencional e consciente. Este caminho é o caminho para o fluir da vida com harmonia e o cuidado comigo, com os outros e com a natureza – o caminho para ser meu ‘Self’.
Se essas palavras ressoam com você, então você está desperto em sua jornada do SER!
Para mim “ser” significa estar vivo e experimentar tudo o que faz parte do caminho – sem dualidade – o tudo e o todo. Também significa impermanência, evolução. E, mais além, “ser” significa, como explica o mestre zen Thich Nhat Hanh, o insight de “interser”: “Inter-existir e a ação de interser refletem a realidade com mais precisão. Inter-estamos uns com os outros e com toda a vida. O planeta inteiro é como uma célula gigante que vive e respira, com todas as suas partes funcionais ligadas em simbiose. ”
Nós humanos carregamos muitas questões existenciais escondidas em nossas mentes: quem somos? Por que tudo existe? Do que se trata a vida? O que acontece após a morte? Ao mesmo tempo, nosso cotidiano também traz muitas questões importantes: como viver uma vida que valha a pena? Como me tornar tudo o que posso ser? Como posso satisfazer minhas necessidades? Qual a melhor forma de nos desenvolver como indivíduos e comunidades? Como amar, conectar? Como ser feliz e realizado(a)? Como impactar positivamente os outros? Como cuidar da natureza?
Com os resultados que temos alcançado como humanidade, entrar em contato com essas questões torna-se menos uma opção e cada vez mais uma necessidade. Esses resultados, como Otto Scharmer (fundador do Presencing Institute) descreve, relacionam-se a três “divisões”: a divisão espiritual-cultural, a divisão social e a ecológica. Ou seja, estamos vivendo uma desconexão de nós mesmos, dos outros e da natureza. O que vivenciamos como sociedade: depressão, perda de sentido e propósito, ignorância, desigualdade, ódio, esgotamento dos recursos naturais, perda da biodiversidade etc., são os sintomas, ou uma paisagem de problemas e patologias causadas por essas desconexões.
Nós não queremos gerar esses resultados, mas os estamos manifestando diariamente. O que podemos fazer então para mudar isso? Acredito que essa não seja a questão principal. O que devemos nos perguntar é: quem podemos ser então para mudar isso?
Se seu coração é atraído por essa pergunta e você a leva a sério, pode considerar o propósito humano primordial: a autorrealização. A realização do nosso grande ‘Self’. O filósofo norueguês Arne Naess, pai da ecologia profunda, fala sobre esse tópico em seu texto “Auto-realização: Uma abordagem ecológica para estar no mundo”. Ele nos lembra da jornada que muitos indivíduos “especiais” ao longo da história tiveram, como o caso de Gandhi: “O que eu quero alcançar – o que venho me esforçando e ansiando por alcançar nestes trinta anos – é a autorrealização para atingir Moksha (Libertação).
Naess explica que Gandhi fala em realizar o ‘ser supremo’ ou ‘universal’ – o ‘Atman’. Paradoxalmente, ele tenta alcançar a autorrealização por meio da ação altruísta, isto é, por meio da redução do domínio do seu ‘self’ com ‘s’ minúsculo, ou o seu ‘eu estreito, pequeno.’ Por entender que por meio do Self com ‘S’ maiúsculo, o seu ‘eu mais amplo’, todo ser vivo está intimamente conectado, e dessa intimidade decorre a capacidade de identificação com o outro e com o todo e, como consequência natural, a prática da não violência na vida. Nas palavras de Gandhi: “Eu acredito na advaita (não dualidade), eu acredito na unidade essencial do homem e, nesse caso, de tudo que vive”.
Vivemos tempos extraordinários. Tempos em que não podemos contar com ou permitir que apenas uma pessoa “especial” tenha esse insight, seja esse ‘Self’, se auto realize. Precisamos todos nós termos esse insight e sermos nossos grandes ‘Self’. Para assim podermos construir comunidades amorosas. Nos curar. Nos importar. Para entendermos que estamos aqui para compreender, acolher, incluir, abraçar e não para conquistar o mundo.
Ainda assim, de acordo com Arne Naess, a auto realização envolve a felicidade. Procurando a felicidade, você não necessariamente se realizará. Já buscar a autorrealização é a melhor maneira de ser feliz. É sobre a realização das nossas potencialidades; nossa natureza mais profunda. E de que natureza é essa que ele fala? Qual é esse nosso potencial e essas nossas capacidades? Nossa natureza interconectada, nosso potencial para amar incondicionalmente e nossas capacidades que nos permitem viver em comunidade e em harmonia com nós mesmos, todos os outros seres vivos e a natureza.
Temos nossas vidas como uma oportunidade e jornada para nos lembrarmos e sermos toda essa nossa natureza, para realizar todo esse nosso potencial e capacidades. Uma jornada para expandir e aprofundar nosso ‘self’ para o nosso ‘Self’. Uma jornada para ser tudo o que somos. Para transformar nossas realidades a partir do olhar para dentro. Contribuindo assim para o mundo por meio de uma percepção aprofundada da realidade e de nós mesmos.
Está nas nossas mãos! Somos a nossa própria esperança, e temos o poder da esperança ativa de manifestar todas essas potencialidades e resultados para o mundo que almejamos: o bem-estar de todos – pessoas e planeta.
Esse é o momento, todos nós precisamos escolher se vamos ‘ser’ ou ‘Ser’! Se nos tornamos o que praticamos, vamos praticar mais:
- consciência / percepção
- presença e escuta profunda (a si mesmo, aos outros, ao futuro que quer ser manifestado através de você)
- contemplação
- sensibilidade para a beleza da vida
- emoção e capacidade de resposta emocional (especialmente dor, para sentir nossa inadequação e impacto no mundo e compaixão para responder adequadamente)
- reflexão, questionamento e compreensão sobre a vida e nosso impacto
- ações positivas baseadas na nossa visão para o futuro e no contato com nosso ‘Self’
Este é um convite da vida para todos nós: se não for você, quem será? Se não for agora, então quando?
Acreditamos muito nisso e por isso a existência da nossa atuação para desenvolver indivíduos, lideranças e comunidades conscientes. Visamos criar espaços onde as pessoas possam praticar juntas ‘Ser’, já que sozinhos não vamos conseguir, e nem podemos fazer, pois “eu Sou” é sempre “nós Somos”.