Nos últimos anos, o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) tem ganhado cada vez mais destaque no mundo dos negócios.
O ESG refere-se a uma série de critérios ambientais, sociais e de governança que muitas empresas estão adotando para avaliar seu desempenho e impacto no mundo.
Como todo movimento, o ESG é um processo em evolução. Isso significa que existe uma jornada a ser percorrida pelas empresas para alcançar níveis mais complexos e abrangentes de atuação.
As empresas evoluem em sua atuação com ESG gradualmente, constituindo assim o que definimos como os Níveis de Maturidade ESG de uma organização. A imagem e os textos a seguir explicam cada um desses níveis.
Em resumo, esses seis níveis de maturidade representam formas de atuação complementares, que podem ser adotadas em diversas combinações e em momentos diferentes pelas organizações, mas que, ao mesmo tempo, apresentam uma lógica evolutiva.
Vamos explorar os diferentes níveis de maturidade de ESG em empresas e como elas podem evoluir ao longo desse caminho.
Os Níveis de Maturidade ESG de uma Organização
- ESG 0.0 – Pontual: Projetos pontuais ou isolados, e baseadas em preferências pessoais da liderança, sem integração estratégica e sem integração estratégica com a empresa.
- ESG 1.0 – Reativo: Atuação acontece através do alinhamento institucional apenas para cumprimento de normas, regras ou leis, e estruturado de forma departamental.
- ESG 2.0 – Estratégico: o ESG está presente na estratégia corporativa de forma transversal, com objetivos e metas que promovem o impacto e o crescimento do negócio.
- ESG 3.0 – Inclusivo: O ESG possui uma atuação com visão sistêmica e inclusiva, em alinhamento com seus stakeholders e com mecanismos que maximizem o impacto positivo interdependente.
- ESG 4.0 – Integrado: O ESG está completamente integrado à estratégia e essência do negócio de forma inovadora, restauradora, integral, consciente e modelos de negócios restauradores.
- ESG 5.0 – Regenerativo: A atuação do ESG parte do pensamento da regeneração com base consciente holística, sendo um organismo coletivo a serviço da evolução das pessoas e catalisador de mudanças que regeneram a sociedade e o planeta.
A seguir, cada um desses níveis é aprofundado e explorado com maiores detalhes.
ESG 0.0 – Pontual: vontade unilateral de impactar positivamente
A versão mais básica e elementar do ESG, ou o ESG 0.0, é aquela em que as ações de impacto social e ambiental positivos provém da vontade unilateral dos proprietários da empresa, alta liderança ou responsáveis diretos. A escolha com relação ao impacto gerado provém da preferência pessoal por algum tema em específico. Em resumo, é o ESG com base na filantropia. Internamente, o ESG é normalmente estruturado via projetos pontuais ou isolados, sem muita clareza nem integração de objetivos organizacionais.
Por exemplo, uma empresa que realiza doações mensais para um asilo de idosos, tendo a origem dessa ação na percepção de um dos proprietários que tem uma identificação com essa causa. Trata-se de uma ação de impacto que não está necessariamente alinhada com a expertise ou operação da empresa e nem foi externamente identificada como uma demanda dos stakeholders.
ESG 1.0 – Reativo: alinhamento institucional para cumprimento de normas, regras e leis
Nesse nível, o ESG possui uma vertente institucional baseada em compliance, ou seja, em conformidade com regras, leis, regulamentos e normas que influenciam fortemente uma organização. Entende-se aqui o ESG como o “certo” a se fazer, a partir de uma base de valores superior que está “acima” da empresa, como o caso de legislações e regulamentações.
Tipicamente o ESG se estrutura de forma departamentalizada, em um setor da empresa, como marketing, recursos humanos ou qualidade, ou mesmo em um setor específico, como Responsabilidade Social ou Sustentabilidade. Sua dinâmica acontece via processos e controles internos distribuídos em uma área ou entre as diversas áreas da organização com “boas” práticas ou ações específicas em resposta a crises imprevistas.
Um exemplo é a adequação de uma organização às legislações ambientais e sociais. Aqui podemos citar as empresas que possuem embalagens em seus produtos e constantemente precisam adequar e ajustar informações a pedido de regulamentações sobre rotulagem visando a transparência com o consumidor final.
ESG 2.0 – Estratégico: foco estratégico em resultados reais e mensuráveis
Nesse nível, a empresa se relaciona com as questões sociais, ambientais e de governança a partir do prisma do negócio, de suas operações, de seu mercado, do seu market-share e de sua consequente lucratividade. O ESG inclui assim uma vertente essencial da lógica econômica capitalista, que é o foco no resultado das ações realizadas. Esse foco no resultado traz um impulso muito positivo ao ESG, no sentido de que as ações a ele relacionadas devem gerar impacto positivo efetivo, real e mensurável.
O ESG 2.0 está no âmago dos típicos conceitos de responsabilidade social corporativa, sustentabilidade corporativa e de investimento social privado.
Compreender o nível de maturidade atual do ESG facilita drasticamente o planejamento e desenvolvimento organizacional, e permite definir uma estratégia ESG e um plano de ação que sejam alinhados com a realidade corporativa.
Como exemplo, trazemos o case da água AMA da Ambev, um produto específico desenvolvido para atender as 35 milhões de pessoas no Brasil que não têm acesso à água potável. Visando diminuir essa desigualdade, 100% do lucro das vendas da água AMA são revertidos para projetos que levam infraestrutura e acesso à água potável para comunidades e localidades necessitadas.
ESG 3.0 – Inclusivo: visão sistêmica e inclusiva do impacto positivo
O ESG 3.0 representa um avanço em relação às versões anteriores, expandindo a percepção e a compreensão com relação aos aspectos ambientais, sociais e de governança, se baseando em uma visão sistêmica e inclusiva do impacto. O foco de atenção migra de dentro da empresa para fora, ou seja, para as dinâmicas de relação entre a organização e o contexto no qual ela está inserida.
Nesse nível de ESG existe uma percepção e uma base sistêmica e pluralista, considerando que somos todos interdependentes nesse planeta. Trata-se da compreensão genuína e verdadeira de que nem uma empresa nem uma pessoa existem sem o meio-ambiente e a sociedade na qual estão inseridas.
Na prática, o ESG 3.0 anuncia uma mudança radical na lógica corporativa, integrando mais um elemento e mais de um ator a ser considerado entre as diversas partes interessadas (stakeholders) da organização. Ou seja, colaboradores, suas famílias, comunidades do entorno, a natureza com sua fauna e sua flora, fornecedores, clientes, acionistas, cidadãos e os demais componentes da nossa sociedade que possuem demandas e interesses considerados no processo de tomada de decisão organizacional.
Dessa forma, entende-se que os projetos ambientais e sociais são estratégias e práticas essenciais para a perenidade, desenvolvimento e expansão dos negócios de uma empresa.
Como exemplo temos o case da Patagonia, que doou 100% de suas economias fiscais para o meio ambiente e, desde 1985, comprometeu a destinar 1% das vendas para a preservação e restauração do mesmo. Além disso, a empresa tem como objetivo desencorajar o consumismo e realiza diversas campanhas de marketing desencorajando as pessoas a comprarem seus próprios produtos, caso não exista uma real necessidade.
ESG 4.0 – Integrado: ESG completamente integrado à estratégia e essência do negócio
No ESG 4.0 a sua principal evolução é que o impacto positivo é intrínseco e indissolúvel de seus negócios e atividades econômicas. Isso significa que uma organização não possui somente uma gama de processos, produtos ou serviços certificados (ISO, fairtrade, orgânico, LEED, FSC, Rainforest Alliance, etc.) ou adota práticas e projetos de cunho social e ambiental, mas incorpora em todas as instâncias do negócio, a intenção, o propósito e o compromisso de gerar impacto positivo real e mensurável.
Em termos simples, quanto mais a empresa expande seu negócio, mais ela gera impacto positivo, porque essa é a natureza e a essência de suas atividades. Tomemos como exemplo, entre muitos outros, o caso da Guayaki, que produz e vende produtos de erva-mate via um modelo de negócio completamente regenerativo, protegendo e regenerando a mata atlântica e suas comunidades na América do Sul. Ou seja, o ESG é totalmente integrado e incorporado em todos os aspectos da organização, se tornando inclusive uma indissociável plataforma impulsionadora de seu crescimento e lucratividade.
O que está por vir? ESG 5.0: Regenerativo
Essas cinco versões do ESG traduzem o amplo universo atual do campo do ESG no mundo. Todas elas coexistem, contribuindo com aspectos cruciais da agenda ESG que se complementam.
A partir desse entendimento, compreende-se que naturalmente existe uma evolução premente para o ESG 5.0. Este, que está se materializando gradualmente, se constitui como um ESG Regenerativo.
Nesse âmbito, uma empresa basicamente existe como um organismo coletivo a serviço da evolução das pessoas, de toda a sociedade e de todo o planeta. Ocorre assim uma importante mudança sobre a existência de uma organização, por haver uma migração da sua identidade individual para uma identidade completamente coletiva. Tanto os negócios, as diretrizes estratégicas quanto a própria estrutura se moldam às oportunidades de expandir seu impacto positivo e de solucionar desafios locais, regionais e globais da humanidade. A missão, razão de existência ou propósito se configura, na verdade, a partir de uma atuação existencial específica voltada para otimizar o processo evolutivo da nossa sociedade.
Um exemplo poderia ser a eclosão de um importante conglomerado corporativo cuja finalidade é reduzir a lacuna da desigualdade social em diversos países, por meio de negócios, parcerias e advocacy, de modo a elevar as oportunidades de desenvolvimento, crescimento e evolução de pessoas de todas as camadas socioeconômicas. Nesse nível, o “ESG” na realidade praticamente não existe, porque os aspectos ambientais, sociais, de governança e demais são evidentemente intrínsecos à existência da organização, e ainda mais, constituem a base fundamental sob a qual opera.
Basicamente, no “ESG 5.0”, o próprio conceito de economia migra para “a co-construção da nossa própria evolução e do futuro que emerge, sempre, nesse instante”.
Como atuar com ESG?
Todas essas seis versões de ESG, do 0.0 ao 5.0, são modelos ideais, que resumem a essência do nível de complexidade do ESG que está presente em uma organização. Para identificarmos em que nível de maturidade uma empresa está precisamos de um claro diagnóstico que nos sinalize o momento atual e que nos possibilite desenhar uma jorna de evolução na escala de maturidade de ESG.
Então, se sua organização nunca atuou com ESG e deseja começar essa jornada? Que tal iniciar implementando um ESG de base 0.0 e 1.0, ou mesmo 2.0? Ou se sua empresa já atua com ESG e deseja avançar para um novo nível mais complexo e integrado, podemos identificar o nível que servirá de alavanca para a expansão de seus negócios.