Vieses Inconscientes e como eles afetam a Diversidade

O cérebro humano é uma máquina de analisar informações e tomar decisões. Apesar de nosso sistema nervoso corresponder a 2% da massa corporal, ele consome de 20 a 25% de energia. 

Ou seja, é uma máquina cara para tomar decisões. E, naturalmente, não dá conta de analisar tudo com calma. Para economizar energia, nosso cérebro desenvolveu atalhos, chamados de heurísticas.

Heurísticas são processos cognitivos utilizados em tomadas de decisão não racionais, caracterizadas como abordagens que simplificam a escolha ao ignorar parte da informação, visando facilitar e acelerar o processo decisório.

Duas formas de pensar

Daniel Kahneman, reconhecido pelo Prêmio Nobel de Economia pelo seu trabalho sobre a psicologia do julgamento e tomada de decisão, publicou um livro chamado Rápido e Devagar. Ele defende a ideia de que nosso cérebro é composto por dois sistemas: o sistema 1, que é automático, rápido e inconsciente e o sistema 2, que é lento, deliberativo e lógico. 

O sistema 1 nos ajuda a decidir o que vamos comer no café da manhã, o que vamos vestir, se vamos dirigir ou pegar um ônibus, se vamos sair para beber mais tarde com os colegas de trabalho. 

Esse sistema nos ajuda a economizar energia quando precisamos tomar tantas decisões variadas ao longo do dia. As heurísticas permitem que a gente tome essas decisões com relativa facilidade, sem muita agonia. 

O sistema 2 tem a capacidade de mudar o que o sistema 1 automaticamente nos diz. Ele funciona como uma espécie de filtro das impressões geradas pelo primeiro sistema, corrigindo impressões falsas. Mas como é lento, sua capacidade de filtrar é muito pequena comparada com as milhares de impressões que o Sistema 1 gera.

Todo ser humano funciona assim, mesmo há milhares de anos, quando vivíamos em cavernas e tudo era uma potencial ameaça e decisões rápidas poderiam salvar nossas vidas. 

Entretanto, esses atalhos nem sempre estão do nosso lado e acabam gerando vieses inconscientes.

Vieses Inconscientes

Vieses inconscientes são atalhos que nosso cérebro cria para economizar energia, mas que geram resultados indesejados. Eles surgem por meio de experiências vividas, lugares frequentados e podem ser até mesmo herança de nossos ancestrais.

São avaliações precipitadas, preconceitos, estereótipos, generalizações, julgamentos desinformados e exclusões sem fundamento. Frequentemente essas convicções surgem de maneira não intencional e é importante notar que muitas delas não refletem o caráter do indivíduo e, em alguns casos, podem ser prevenidas.

Viés de Confirmação

É a tendência de dar mais valor e importância a informações que confirmam nossas crenças preexistentes, enquanto ignoramos ou minimizamos evidências que as contradizem. 

Esse efeito também é percebido quando pessoas costumam interpretar evidências ambíguas de maneira a reforçar opiniões já estabelecidas.

Este fenômeno pode impactar a tomada de decisões objetivas, levando a escolhas influenciadas por preconceitos e limitando a capacidade de considerar diferentes perspectivas. 

Efeito Auréola

Refere-se à tendência de generalizar uma impressão positiva ou negativa sobre uma pessoa com base em uma única característica. Se alguém tem uma qualidade positiva, assume-se que outras características também são positivas (e vice-versa).

Recentemente, uma pesquisa veiculada na Journal of Applied Psychology comprovou que uma aparência física atraente não só beneficia a autoconfiança de uma pessoa como também o salário que ela recebe e seu bem-estar.

Teoria do Pico e Fim

Quando consideramos o quanto algo foi agradável ou doloroso, não fazemos uma média de prazer para decidir se foi bom ou ruim, mas somos influenciados por níveis de pico (mais intensos ou marcantes) e final. 

Portanto, uma experiência que pode ter sido monótona na maior parte do tempo, mas que teve uma parte interessante no meio e terminou em alta, será lembrada como mais agradável do que algo que foi decente durante todo o tempo, mas nunca atingiu níveis altos de excitação.

Viés de Grupo

Descreve a tendência das pessoas em favorecer membros do seu próprio grupo em detrimento de indivíduos que não pertencem a esse grupo. 

Ou seja, quando ocorre o viés, as pessoas tendem a exibir preferências, tratamento diferenciado ou avaliações mais positivas em relação aos membros de seu próprio grupo, mesmo que essas preferências não sejam justificadas objetivamente. 

Ao mesmo tempo, podem exibir atitudes menos favoráveis em relação a pessoas que não fazem parte desse grupo.

Esse viés pode levar à exclusão, discriminação e limitar a diversidade de perspectivas.

Viés de Recência

É um fenômeno cognitivo em que as pessoas tendem a dar mais peso e importância a eventos, informações ou experiências recentes ao tomar decisões ou formar julgamentos.

Esse viés pode afetar, por exemplo, em contextos de avaliação de desempenho, onde um acontecimento recente positivo ou negativo pode ter um impacto exagerado na avaliação global, desconsiderando contribuições anteriores.

Viés de Desempenho

Esse viés atua ao fazer com que pessoas sejam julgadas de forma diferente a depender do grupo ao qual pertencem. Esse efeito surge, por exemplo, em pressuposições de que homens têm melhores habilidades profissionais do que mulheres.

Por conta disso, mulheres são mais interrompidas, têm suas ideias mais questionadas e precisam obter mais resultados do que os homens para provarem que são competentes. Além de serem mais criticadas por seus erros e menos parabenizadas por seus acertos (American Psychologist).

Esteriótipos

Os estereótipos são crenças generalizadas e simplificadas sobre um grupo de pessoas com base em características como gênero, etnia, idade, entre outras. Esses estereótipos podem impactar negativamente a diversidade ao perpetuar visões limitadas e preconceituosas, resultando em discriminação e exclusão injustificadas.


Os vieses inconscientes representam um desafio significativo na busca por decisões imparciais e equitativas. 

Compreender esses padrões automáticos de pensamento é crucial para mitigar seus impactos prejudiciais na sociedade, promovendo a conscientização e ações que contribuam para uma tomada de decisão mais justa e livre de preconceitos. 

Ao reconhecer e desafiar esses vieses inconscientes, podemos avançar em direção a um pensamento mais inclusivo e equitativo, beneficiando a todos em nossa busca por escolhas informadas e justas.

Uma forma de contornar os vieses inconscientes em sua organização, é por meio de processos que implementam a entrada e permanência de talentos diversos, conheça nossa consultoria de Diversidade e Inclusão.

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Marina Sperafico

Marina tem mais de 12 anos de experiência em ONGs, governo, startups e grandes corporações. É fundadora da Shift, empresa que influencia transformações em JEDI – justiça, equidade, diversidade e inclusão de dentro para fora, e do Representa, iniciativa de promoção da inclusão racial na educação superior. Idealizou e liderou a campanha de equidade de gênero #ComVocêEuJogoMelhor, reconhecida pela ONU Mulheres, El Ojo e TrendWatching. É ganhadora do Betty Scharf Prize de melhor dissertação em Gênero e Religião LSE 2020. Possui mestrado em Gênero, Desenvolvimento e Globalização pela London School of Economics and Political Science através da bolsa Chevening. É Certificada em Negociação e Liderança pela Stanford Graduate School of Business, Especialista em Negócios Digitais, MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e Bacharel em Relações Internacionais.

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