Como elaborar um Relatório de Sustentabilidade?

Em um mundo cada vez mais conectado e consciente, a sustentabilidade deixou de ser um diferencial e se tornou um imperativo para empresas de todos os setores. Nesse contexto, o Relatório de Sustentabilidade emerge como uma ferramenta poderosa para comunicar as práticas e o desempenho ambiental, social e de governança (ESG) de uma organização.

Mas como elaborar um relatório eficaz que realmente gere impacto positivo? Quais as vantagens para a sociedade, o meio ambiente e a própria empresa?

Neste guia completo, vamos explorar o passo a passo para a criação de um Relatório de Sustentabilidade, desde a definição estratégica até a divulgação dos resultados. Abordaremos também os principais padrões e normas, como o GRI e o ISSB, e como se adequar às exigências do mercado.

O que é um Relatório de Sustentabilidade?

Relatório de sustentabilidade é um documento que as empresas utilizam para comunicar suas práticas e desempenho ambiental, social e de governança.

Ele fornece uma visão transparente sobre como a organização está gerenciando suas responsabilidades para as principais partes interessadas.

O relatório de sustentabilidade se aplica a qualquer empresa ou organização, com ou sem fins lucrativos. Ele é adaptável a diversos setores da economia.

História

  • 1970: Primeiras iniciativas de relatórios ambientais começaram a surgir, com foco no impacto ambiental das operações. Europa começaram a relatar informações ambientais básicas.
  • 1990: Começaram a expandir seus relatórios ambientais para incluir aspectos sociais e econômicos, resultando em relatórios mais abrangentes de sustentabilidade.
  • 1997: Foi fundada a Global Reporting Initiative (GRI), que desenvolveu diretrizes globais para relatórios de sustentabilidade.
  • 2004: O Pacto Global da ONU lançou a “Comunicação de Progresso” (COP), exigindo que as empresas signatárias relatassem suas práticas de sustentabilidade anualmente.
  • 2020s: A sustentabilidade se tornou um componente central nas estratégias empresariais, e a demanda por relatórios transparentes e precisos aumentou.

Tipos de Relatório

Relatório de Atividades

Descreve as operações e realizações de uma organização em um determinado período.

  • Resumo de projetos e iniciativas.
  • Alguns resultados financeiros.
  • Principais conquistas e desafios.

Em geral, são relatórios anuais tradicionais ou relatórios de organizações não governamentais (ONGs).

Relatório ESG

Relatórios ESG abordam especificamente alguns aspectos materiais específicos dentro das áreas ambientais, sociais e de governança das operações de uma empresa. Por exemplo:

  • Ambiental: emissões de carbono, gestão de recursos, sistema de gestão ambiental;
  • Social: relações humanas, diversidade, gestão de fornecedores, projetos sociais;
  • Governança: ética empresarial, transparência, estrutura de governança.

Relatório de Sustentabilidade

Documento abrangente que detalha o impacto ambiental, social e econômico de uma empresa, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, indo além do cumprimento das obrigações regulamentares e focando em práticas que beneficiem a sociedade e o meio ambiente.

Como desenvolver um Relatório de Sustentabilidade?

1. Objetivo e Público-Alvo (Definição Estratégica)

  • Descrição: Esta etapa inicial é crucial para definir o propósito do relatório e quem você deseja alcançar.
    • Determine os objetivos: O que você quer alcançar com este relatório? Aumentar a transparência? Atrair investidores? Engajar as partes interessadas?
    • Identifique seu público: Quem vai ler seu relatório? Investidores, clientes, ONGs, funcionários? Adapte a linguagem e o nível de detalhe para cada público.

2. Narrativa de Impacto (Contando sua História)

  • Descrição: Vá além de meros dados e estatísticas. Construa uma narrativa envolvente que transmita o impacto positivo das suas ações.
    • Destaque suas iniciativas: Apresente os projetos e programas de sustentabilidade da sua empresa de forma clara e concisa.
    • Mensure os resultados: Demonstre o impacto real das suas ações com dados quantitativos e qualitativos. Use gráficos e infográficos para facilitar a compreensão.
    • Conecte-se emocionalmente: Use um tom inspirador e positivo, mostrando o compromisso da sua empresa com um futuro sustentável.

3. Equipe de Trabalho (Construindo um Time Colaborativo)

  • Descrição: A criação de um relatório de sustentabilidade exige um esforço conjunto.
    • Monte uma equipe multidisciplinar: Inclua membros de diferentes departamentos, como sustentabilidade, comunicação, operações e RH.
    • Defina papéis e responsabilidades: Garanta que cada membro da equipe tenha clareza sobre suas tarefas e prazos.
    • Estabeleça uma comunicação eficaz: Promova uma comunicação aberta e transparente entre os membros da equipe durante todo o processo.

4. Coleta de Dados e Informações (Gerenciando Informações)

  • Descrição: A coleta de dados precisos e confiáveis é essencial para um relatório confiável.
    • Identifique as fontes de dados: Utilize sistemas internos, pesquisas, entrevistas e dados de fornecedores para reunir as informações necessárias.
    • Defina indicadores-chave de desempenho (KPIs): Escolha métricas relevantes para medir o progresso em relação aos seus objetivos de sustentabilidade.
    • Garanta a precisão dos dados: Implemente processos para garantir a qualidade, consistência e verificabilidade das informações coletadas.

5. Escrever, Revisar e Validar (Aprimorando a Comunicação)

  • Descrição: Um relatório bem escrito e visualmente atraente é fundamental para o sucesso.
    • Estruture o conteúdo de forma clara e concisa: Utilize headings, subtítulos, bullet points e gráficos para facilitar a leitura e a compreensão.
    • Revise e edite cuidadosamente o texto: Elimine erros gramaticais, informações inconsistentes e repetições.
    • Valide o conteúdo com as partes interessadas: Peça feedback da equipe, especialistas e das partes interessadas para garantir a precisão e a clareza das informações.

6. Divulgar o Relatório (Amplificando o Alcance)

  • Descrição: Após a finalização, é hora de compartilhar seu relatório com o mundo!
    • Publique em seu site: Crie uma seção dedicada à sustentabilidade e publique o relatório em formato PDF para download.
    • Compartilhe nas redes sociais: Divulgue o relatório em suas plataformas de mídia social, destacando os principais destaques e utilizando hashtags relevantes.
    • Envie por e-mail para as partes interessadas: Envie um e-mail personalizado para suas partes interessadas, convidando-os a ler o relatório e compartilhar suas opiniões.
    • Participe de eventos e conferências: Apresente seu relatório em eventos do setor e aproveite a oportunidade para interagir com as partes interessadas.

Os Principais Padrões de Relatórios de Sustentabilidade

GRI – Global Reporting Initiative

Metodologia criada pela Global Reporting Initiative (GRI), organização internacional sem fins lucrativos sediada na Holanda.

O objetivo é padronizar a geração de relatórios de sustentabilidade e traduzir as práticas em algo comum a todos e uma forma das organizações serem mais transparentes sobre como contribuem para um desenvolvimento sustentável.

Traz uma estrutura, normas, recomendações e indicadores reconhecidos pelo mercado, por empresas e pelas partes interessadas.

Principais características do GRI:

  • Abordagem modular: O GRI oferece flexibilidade para que as organizações reportem sobre os temas materiais mais relevantes para suas partes interessadas, utilizando os Padrões GRI, divididos em três séries: Universal, Setorial e de Tópicos.
  • Foco nas partes interessadas: A identificação e o engajamento com as partes interessadas são pilares do GRI, garantindo que as informações reportadas sejam relevantes e atendam às expectativas.
  • Ênfase na materialidade: O GRI utiliza o conceito de dupla materialidade, considerando os impactos significativos da organização no mundo e os assuntos que influenciam substancialmente as decisões das partes interessadas.
  • Compromisso com a evolução: O GRI é um framework vivo, em constante aprimoramento para refletir as mudanças nas expectativas da sociedade e os desafios globais emergentes.

ISSB e as normas IFRS S1 e S2

O International Sustainability Standards Board (ISSB) surge com o objetivo de padronizar globalmente as informações sobre sustentabilidade divulgadas pelas empresas, focando em riscos e oportunidades relacionados a temas como mudanças climáticas, biodiversidade e direitos humanos. As normas IFRS S1 e IFRS S2, publicadas pelo ISSB, visam fornecer aos investidores uma visão clara e comparável do desempenho ESG das empresas.

Principais diferenças entre as normas:

  • IFRS S1 (Requisitos gerais): Define diretrizes amplas para divulgação de informações sobre todos os temas materiais relacionados à sustentabilidade, utilizando o conceito de materialidade financeira – ou seja, informações que podem influenciar as decisões dos investidores. A norma se baseia nos quatro pilares do TCFD: Governança, Estratégia, Gestão de Riscos e Métricas e Metas.
  • IFRS S2 (Divulgações relacionadas ao clima): Foca especificamente nos riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas, seguindo a mesma estrutura da IFRS S1, mas com foco em como as empresas estão lidando com os impactos e riscos climáticos em seus negócios.

A obrigatoriedade do ISSB no Brasil
O Brasil, por meio da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), se tornou pioneiro na adoção das normas do ISSB com a Resolução 193/2023. A implementação será gradual:

  • Adoção voluntária a partir de janeiro de 2024: Empresas podem optar por divulgar informações de acordo com as normas, com algumas flexibilizações.
  • Obrigatoriedade a partir de janeiro de 2026: Empresas abertas serão obrigadas a divulgar relatórios de sustentabilidade auditados.

Impactos para as empresas:
As empresas brasileiras precisarão se preparar para atender às novas exigências, o que inclui:

  • Rever e aprimorar seus processos de identificação de temas materiais.
  • Implementar estruturas de governança robustas para lidar com os desafios da sustentabilidade.
  • Desenvolver sistemas de gestão de riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.
  • Definir métricas e metas claras, mensuráveis e alinhadas com as melhores práticas.
  • Preparar-se para a auditoria das informações divulgadas em seus relatórios de sustentabilidade.

A implementação das normas do ISSB no Brasil representa um passo crucial para a consolidação da agenda ESG no país, promovendo a transparência, a comparabilidade e a responsabilidade corporativa em relação aos desafios socioambientais.

Vantagens de se publicar um relatório de sustentabilidade

Para a Sociedade

  • Transparência e Responsabilidade: As empresas se tornam mais transparentes em suas operações e impactos sociais, promovendo a responsabilidade corporativa.
  • Engajamento com a Comunidade: A divulgação de iniciativas de sustentabilidade pode fortalecer o relacionamento com a comunidade, demonstrando compromisso com o bem-estar social.
  • Educação e Conscientização: A publicação de relatórios educa a sociedade sobre práticas sustentáveis e a importância de adotar comportamentos responsáveis.
  • Inclusão Social: Destaca esforços para promover a diversidade, equidade e inclusão, melhorando as condições de vida de diversos grupos sociais.

Para o Meio Ambiente

  • Redução de Impacto Ambiental: Empresas que publicam relatórios de sustentabilidade tendem a monitorar e reduzir seus impactos ambientais, promovendo práticas de conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
  • Transparência Ambiental: Proporciona informações claras sobre a gestão ambiental, incluindo uso de energia, emissões de carbono, gestão de resíduos e preservação da biodiversidade.
  • Inovação e Melhoria Contínua: Incentiva a inovação em tecnologias e processos que minimizam o impacto ambiental, promovendo uma economia mais verde.
  • Responsabilização: Obriga as empresas a serem responsáveis por suas ações ambientais e a adotar medidas para mitigar danos.

Para as Empresas

  • Reputação e Imagem de Marca: Empresas que divulgam suas práticas de sustentabilidade tendem a melhorar sua reputação e a construir uma imagem positiva junto aos consumidores e investidores.
  • Atração e Retenção de Talentos: Colaboradores, especialmente os mais jovens, preferem trabalhar para empresas que demonstram compromisso com a sustentabilidade.
  • Vantagem Competitiva: Empresas sustentáveis podem se diferenciar no mercado, atraindo consumidores que valorizam práticas responsáveis e produtos eco-friendly.
  • Redução de Riscos: A identificação e a gestão de riscos ambientais e sociais podem proteger a empresa contra impactos financeiros e operacionais negativos.
  • Eficiência Operacional: A implementação de práticas sustentáveis pode levar a melhorias na eficiência dos recursos, resultando em economia de custos.
  • Acesso a Capital: Investidores estão cada vez mais interessados em empresas que adotam práticas ESG (Ambiental, Social e Governança), o que pode facilitar o acesso a financiamento e investimentos.
  • Compliance e Regulamentação: Ajuda a garantir conformidade com regulamentações ambientais e sociais, evitando multas e penalidades.

Construindo um Futuro Mais Sustentável e Transparente

A jornada rumo à sustentabilidade exige compromisso, transparência e ação. O Relatório de Sustentabilidade surge como um instrumento poderoso para comunicar esse compromisso, engajar as partes interessadas e impulsionar a mudança em direção a um futuro mais justo e sustentável.

Ao construir um relatório de sustentabilidade, sua empresa estará no caminho para se tornar uma catalisadora de impacto positivo para a sociedade e o planeta. Lembre-se de que a sustentabilidade não é um destino, mas uma jornada de aprimoramento contínuo.

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Raissa Santos

Profissional com experiência ONG’s e empresas privadas, atuando principalmente com Gestão de Projetos Socioambientais, Responsabilidade Social Corporativa, Gestão de Processos Financeiros/Administrativos e Certificações Internacionais, como a certificação de Empresa B. Raissa é co-fundadora e Diretora Administrativa da organização social Kurytiba Metropole que atua diretamente com o Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de vida, Democracia Participativa e Inclusiva e Equidade e Justiça Social. Como iniciativa destaque temos o Mapa das Desigualdades de Curitiba e região metropolitana que está sendo realizado em parceria com a Universidade Federal do Paraná – UFPR. Possui especialização em Empreendedorismo e Negócios Social (FAE Business School) e graduação em Gestão Financeira (Universidade Opet). É certificada em Relatos de Sustentabilidade baseados nos Padrões de Relatórios de Sustentabilidade da GRI (GRI Professional Certification Program) e em PMD Pro – Project Management for Development Professionals (APMG International).

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