O COVID Integral

Esse texto apresenta uma visão evolutiva dos níveis de consciência durante o período 2020-2021, caracterizado pela pandemia do Corona Vírus, episódio que chamo aqui de “COVID-19 INTEGRAL”. Me coloco aqui humildemente como um transmissor de uma sabedoria que é de autoria coletiva. Há mais de 15 anos eu venho estudando e explorando a abordagem integral da evolução humana, o que culminou com a publicação do livro “Liderança Integral. A evolução do ser humano e das organizações” que escrevi junto com o José Vicente e a Luciane Botto. E desde então, temos sido abençoados com conhecimentos e perspectivas ainda mais profundas, não somente sobre o desenvolvimento de nossos níveis de consciência, mas sobre nossa evolução como seres humanos e partes de um todo muito maior.

Pois bem. No início de 2020 vivenciei mais um capítulo nessa bênção, e estive junto à pessoas maravilhosas no programa MetaIntegral da Chie Integrates para ouvir e trocar com a Beena Sharma, CEO da VEDA e especialista em Desenvolvimento Vertical e Maturidade Humana. O tema que conversamos foi justamente a evolução dos níveis de desenvolvimento e consciência no ser humano, e ela trouxe uma linda análise dessa evolução e sua correlação com o COVID-19. E eu senti que seria importante compartilhar tal análise desse momento em que estamos vivendo, para que estejamos todos e todas cada vez mais conscientes de nossas atitudes, formas de pensar e de nossa saúde física, mental e espiritual.

Nesse texto, portanto, combino todo o conhecimento que adquiri ao longo desses últimos vinte anos explorando a abordagem integral com os excelentes conteúdos e as incríveis trocas experienciadas nessa vivência. Preparem-se para uma viagem pelas riquezas da consciência humana e da nossa evolução como humanidade, compreendendo como nossos níveis de consciência se expressam nas nossas perspectivas e visões de mundo sobre o COVID-19. 

Para iniciar, imaginem que o adulto humano passa por 8 níveis de consciência, ou seja, 8 níveis de maturidade, ao longo de sua vida. E cada um desses níveis é caraterizado por uma forma de pensar e de ver o mundo. Basicamente, esses 8 níveis trazem a seguinte evolução:
1. Nossa necessidade de sobrevivência e de nos sentirmos seguros
2. Nosso senso de pertencimento e organização por uma verdade absoluta
3. Nosso foco no conhecimento, na competência e na expertise
4. Nossa busca de identidade, independência, escolha e de gerar resultados
5. Nosso senso de interdependência e aceitação da pluralidade e do relativo
6. Nossa atuação sistêmica, posicionamento e exploração de nossas fronteiras
7. Nosso questionamento existencial sobre a realidade que criamos
8. A percepção de que somos meros observadores da sabedoria da vida

Nós navegamos por esses níveis ao longo de nossa vida, e quando adquirimos a forma de pensar e ver o mundo de um novo nível, o saudável é integramos as formas anteriores, e seguirmos evoluindo. O famoso processo de “incluir e transcender”. Todos os níveis são necessários e importantes para a nossa evolução. E, ainda mais, podemos ativar mais fortemente determinados níveis a qualquer momento, principalmente quando um gatilho externo aciona um desses níveis. De longe, um dos maiores exemplos de um gatilho em nossa história global é o COVID-19. Entender esses níveis significa entender as nossas reações ao COVID, a reação das outras pessoas, a reação de cada um de nós e a reação da sociedade como um todo.

1. Self-Centric (Bege/Roxo/Vermelho)

O nosso primeiro nível (Self-Centric | Bege/Roxo/Vermelho) é um nível fundamental da vida, quando estamos focados em nossa sobrevivência e em nossa segurança individual. Se eu não cuidar de mim, eu morro. Sobrevive quem é mais forte, capaz ou inteligente, e se for preciso vou competir, fazer o que for necessário e até mesmo ser agressivo se necessário. O medo desse nível é de não sobreviver. Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, que exploramos em nosso livro, essa forma de ver o mundo se relaciona aos níveis BEGE, ROXO e VERMELHO, cada um com suas características. E foram os níveis de consciência dominantes desde a nossa pré-história até a época dos grandes impérios.

Esse nível foi, e está sendo, fortemente ativado e reativado durante a pandemia do COVID-19 e eventos similares. Algumas atitudes relacionadas são: estocar comida e suprimentos, como o famoso papel higiênico, em casa; fugir para outras localidades e regiões, se esconder em bunkers embaixo da terra (o que muitas pessoas com recursos fizeram) e comprar armas (a venda de armas em alguns países aumentou assustadoramente). O sentimento que vem é aquela sensação de se sentir superior, protegido, mais seguro do que os outros. Pessoas que mencionam que sentem falta da vida “normal”, anterior, de sair passear, encontrar os amigos, ir ao cinema, e que não vêm a hora de poder fazer isso de novo, também exprimem esse nível de consciência. Pensar que sou imune, invencível e “que nada vai acontecer comigo” também está relacionado a esse nível, assim como culpar quem fica doente. Existem mensagens impressionantes nas redes sociais do tipo “parem de ficar doentes, seus covardes”, ou também de culpar os outros “Ah, eu não estou com medo, é o destino, além do meu controle, eu lavo as minhas mãos, mas o governo deveria parar de deixar entrar mais casos no meu país”.

Reflita um pouco sobre você. Você teve sentimentos, pensamentos ou reações desse nível de consciência e maturidade?

2. Group-Centric (Azul)

No segundo nível evolutivo (Group-Centric | Azul), percebemos que vivemos em sociedade, em grupos, e que não será possível viver pensando unicamente nas minhas necessidades. E para que possamos viver melhor, precisamos de regras e organização. A visão de mundo nesse nível é que o que mais importa é o grupo no qual estou inserido, e a maior motivação é se adequar e obedecer às regras desse grupo, seja ele a minha família, meu grupo de amigos, meu grupo religioso, minha organização, meu estado ou mesmo o meu país. É uma forma de pensar conformista, ou seja, que se conforma às normas coletivas, e absolutista, o que significa que existe uma regra, uma lei, um conjunto de ensinamentos que é exterior a mim, que ditam o que é certo e o que é errado, e que eu preciso seguir fielmente. Esse nível distingue assim o que é bom ou ruim, o que é o bem e o mal, o que é o certo e o errado, e essa é a forma de pensar dominante da pessoa que ativa mais esse nível.

Essa verdade absoluta pode estar escrita em um conjunto de leis ou em um livro sagrado, ou mesmo ser informal, um conjunto de normas dominantes em um grupo. Eu sigo essas determinações e aguardo que a decisão chegue até mim. Eu espero que me digam o que tenho que fazer. Minha preocupação é em atender as expectativas dos outros, conforme as normas coletivas, e com a percepção dos outros com relação à minha lealdade. Eu suprimo então meus sentimentos, se forem contrários à vontade do grupo, porque não quero causar problemas e quero me manter como parte desse conjunto de pessoas, portanto posso até sentir, mas não exteriorizar o conflito. Espero que eu seja aprovado, reconhecido por estar cumprindo o meu papel para o bem desse grupo. Lealdade, respeito, diplomacia e pertencimento são valorizados. E a independência pode ser vista como algo negativo. Por exemplo, se um membro da família começa a agir de forma mais independente, os membros da família podem interpretar isso negativamente e percebê-lo como egoísta, pois “não se importa conosco”. Perceba que toda essa estrutura é usada para reforçar os valores do grupo, e portanto fortalecem o que é a ética e a moral daquele conjunto de pessoas, definindo o que é “do bem/certo” e o que é “do mal/errado”. Os membros do grupo são assim condicionados a seguir o que é ensinado e reforçado.

Essa forma de pensar faz então a pessoa separar quem somos “Nós”, do grupo, e quem são “Eles”, os outros, aqueles que não pertencem. Eu me identifico com quem está no meu grupo, e os outros são insignificantes, sem valor ou até mesmo nossos inimigos. O que o grupo quer é o que eu quero, e se você ferir, atacar ou criticar o meu grupo, estará ferindo, atacando ou criticando a mim, e vice-versa. Esse nível está na base do xenofobismo, ou seja, a aversão ao “estrangeiro”, a quem é de fora. Uma forma de agir comum em torcidas organizadas de futebol, em partidos políticos, no fundamentalismo religioso, na homofobia, entre outros. Somos nós ou eles. Novamente, o certo e o errado, o bem e o mal.

Por outro lado, esse estágio é a fundação básica da formação de sociedades, é a “cola” que une pessoas em torno de um objetivo ou propósito comum. É a forma de pensar que permitiu que construíssemos as nossas sociedades coletivas e as nossas nações.

Perceba que a ênfase desse nível é nos outros, sejam “nós” ou “eles” e não mais no EU, individual. O maior medo desse nível é a ameaça de exclusão, de ser abandonado e de ficar sozinho. Ele reflete a necessidade de aprovação de alguém por algo ou alguém entendido como “superior”. Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona ao nível AZUL de consciência. E foi o nível de consciência predominante na história da humanidade da época da Idade Média, até mais ou menos um pouco antes das grandes navegações, entre 1450 e 1500. E, ainda hoje, é o nível mais presente hoje em número de pessoas no planeta, e que normalmente chamamos de “tradicional”, no sentido da estrutura tradicional que normalmente conhecemos típicas das instituições religiosas, militares e educacionais formais.

Com relação ao COVID-19, segue aqui um exemplo de expressão nas redes sociais que reflete esse nível: “Nós fomos ensinados em nossa infância a amar e respeitar os trabalhadores de nossa comunidade, e estou tão feliz em homenagear os nossos #Coronaheroes (heróis do Corona)”. Nesse caso, perceba como a ênfase foi colocada no heroísmo, pelo sacrífico dos heróis em ajudar os outros, como fomos ensinados e condicionados na nossa infância, a amar e respeitar. A beleza desse nível de consciência é justamente a bondade, a solidariedade e o fazer o bem, como doações, contribuições e assistências, que vem dessa percepção de que isso é o certo e o bom a ser fazer nesse momento.

“Siga as regras. Siga as orientações. Siga as normas”, são também formas de expressão desse nível. Outro exemplo é: “Reze e confie em Deus que seremos salvos”. Ou ainda “Que o Senhor esteja com você durante esses períodos difíceis, e que Ele olhe por nós durante essa pandemia. Que Ele nos proteja e que você supere todas as dificuldades que aparecerem em sua jornada”. Perceba a bênção, o cuidado e a delegação para uma autoridade superior, seja governo, um ser supremo ou outra autoridade, que vai proteger você e todos nós.

Outras formas de expressão mais radicais e polarizadas também podem emergir desse nível, principalmente quanto a culpar “outros” pela pandemia. Por exemplo, “Se você pegar o vírus, é a vontade de Deus; Se Deus não quiser que você seja infectado, você não será”. Ou então “é culpa dos chineses” ou “’é culpa de quem viajou para fora do país”. Ou ainda casos extremistas como o anti-semita Rick Wiles que disse que o Coronavirus está se espalhando pelas sinagogas como uma punição de Deus aos judeus por eles não seguirem Jesus. Perceba a ingenuidade e simplificação da realidade presente esse nível.

Reflita um pouco sobre você. Você teve sentimentos, pensamentos ou reações absolutistas e normativas, típicos desse nível de consciência e maturidade?

3. Skill-Centric (Azul-Laranja/Expert)

No terceiro nível evolutivo (Skill-Centric | Azul-Laranja/Expert), uma nova percepção surge sobre a minha identidade, a identidade do “EU”, separada dos outros, do grupo, da família, da comunidade e da norma social. A minha identidade vem do que EU FAÇO, e muitas vezes, nos dias de hoje, do meu trabalho e profissão. A identidade é baseada no conhecimento, nas habilidades, na perfeição, no saber e no melhorar. Minha atenção primária é em obter toda a informação e expertise, fatos técnicos e quantitativos, ser o maior expert que posso ser, o melhor no que faço, e me basear nos maiores experts que existem.

Eu não quero focar necessariamente em saber a opinião de uma pessoa, mas em como as coisas podem ser feitas da melhor forma possível. Eu não vou portanto ouvir a “sabedoria popular”, mas sim as análises dos maiores experts do mundo. A eficiência é altamente valorizada, no sentido de fazer certo as coisas, e da melhor forma possível: “é assim que se faz para se obter o melhor resultado”. Trata-se de encontrar o famoso “one best way”, ou seja, o melhor modo de fazer algo. Nesse nível, se você critica o meu trabalho, minha organização, o meu produto ou serviço, você está criticando a mim diretamente. Ao mesmo tempo que sou crítico sobre o trabalho e o conhecimento dos outros, procurando seguir a maior expertise disponível, sou também autocrítico. Quanto mais informação eu tenho, mais capaz e competente eu me torno para tomar as melhores decisões possíveis.

Em comparação ao nível anterior, eu ainda estou seguindo alguém ou um conjunto de instruções, mas dessa vez eu sigo o conhecimento, concreto e objetivo, e quem comprovadamente sabe o que está falando e modelos validados, preferencialmente pela ciência. Mas ao mesmo tempo eu me posiciono, eu tenho valor como indivíduo, mereço respeito e tenho algo a dizer, minha visão a expressar. Principalmente se investi muito tempo me especializando, obtendo um título de mestre ou PhD, então quero provar que eu sei, que eu tenho um conhecimento avançado e aprofundado. Eu me identifico então com a minha atuação, ela se torna a minha identidade. Por exemplo, um atleta olímpico que ganha uma medalha nas olimpíadas, e passa 4 anos se identificando àquele sucesso e título. E na olimpíada seguinte não obtém novamente a medalha. Se essa identificação for puramente nesse nível de consciência, não ganhar a medalha significará perder a sua identidade.

Perceba que a ênfase desse nível é na competência individual e na expertise pelo conhecimento. O maior medo desse nível é não ter a resposta, não ter o conhecimento, não saber o melhor caminho a seguir. Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona ao nível intermediário AZUL-LARANJA de consciência, que costumamos chamar de EXPERT. Eu também costumo descrever esse nível sendo a primeira metade do nível laranja, como se fosse um nível de titulação de mestrado. Em um mestrado, o aluno estuda os maiores experts em um assunto, seleciona a melhor opção para resolver ou testar sua questão de pesquisa, e aplica aquele conhecimento. Ele ainda não está no nível de criar a sua própria teoria, o que acontece no segundo nível, no doutorado, que se relaciona ao quarto nível evolutivo que será explicado mais à frente. Essa forma de pensar EXPERT (AZUL-LARANJA Skill-Centric) foi o nível que caracterizou os grandes avanços, descobertas, criações e inovações que nos impulsionaram a partir da segunda metade do século XV em diante.

Com relação ao COVID-19, percebemos esse nível de consciência e maturidade ao atuar selecionando e publicando o maior número de dados e informações técnicas e científicas disponíveis sobre o vírus e a pandemia. O compartilhamento de informações precisas, corretas e relevantes basta para sabermos tudo sobre como prevenir a infecção e ter soluções prontas e comprovadas. Por exemplo, explicar detalhadamente e visualmente, em gráficos, tabelas e cálculos as curvas de infecção e as justificativas para o distanciamento e o isolamento social. Além disso, são importantes as diversas formas de fazer, melhorar e aperfeiçoar métodos e equipamentos como máscaras, purificadores e desinfetantes. Também se basear em casos e experiências que tenham demonstrado sucesso, e elaborar guias de boas práticas para lidar com a pandemia.

Um exemplo incrível, destacado pela Beena Sharma, é um manual criado pela Toyota, e disponível na internet, sobre como reiniciar as operações após uma quarentena relacionada ao COVID-19. O manual é repleto de infográficos e instruções sobre como lidar com qualquer situação relacionada a saúde e segurança nas fábricas e escritórios, desde a saída de casa até o retorno ao lar. Entrada na empresa, limpeza, o que fazer com casos suspeitos, pessoas a contactar, etc. Existe até mesmo um guia de como e onde sentar em carros em viagens executivas, definindo que o “novo normal” seria não mais dar carona, medir a sua temperatura antes de entrar no carro, respeitar o limite de 2 pessoas por carro, mantendo distância e sentadas somente em diagonal, uma no assento do motorista e outra atrás, do outro lado.

Entretanto, no manual não há nada sobre como as pessoas podem lidar com a ansiedade e com o isolamento, explicando formas de aumentar a colaboração e a conexão segura entre as pessoas, por exemplo. As experiências e os sentimentos das pessoas ficaram de fora, apesar do manual ter sido preparado por seres humanos que estão tendo também que lidar com a ansiedade e o isolamento. Percebam que, ao ativar esse nível de consciência para formatar o manual, os autores se limitaram aos procedimentos e estrutura formais de sua atuação profissional.

4. Self-determining (Laranja)

O quarto nível evolutivo (Self-determining | Laranja) é caracterizado por um salto significativo de consciência e maturidade. Nesse nível, a pessoa assume completamente a sua identidade por si só, independente dos grupos a que pertence e de sua competência, expertise ou profissão. A pessoa se torna um agente de sua vida, assumindo, analisando e se responsabilizando pelas suas próprias decisões, ações e resultados. Minha identidade vem de quem eu sou, e das escolhas que eu faço. Surge uma preocupação em analisar toda a informação disponível para se tomar uma decisão que vai dar o melhor resultado, e o foco não se limita somente a coletar informações de experts, mas de ser um ator ativo na criação da solução. Emerge assim a reflexão sobre o impacto do que se faz, sobre como “eu posso fazer a diferença no mundo”, pois eu acredito que posso transformar o mundo, posso fazer as coisas acontecerem. A atenção vai para o fazer com eficácia, ou seja, fazer a coisa certa, realizar exatamente o que é necessário para obter o melhor resultado.

Também surge algo novo. Sou mais objetivo e se o meu trabalho ou profissão for criticado, eu não sinto que a crítica é para mim. Pela primeira vez eu digo: “olha, você está certo, faz sentido, talvez eu pudesse fazer isso de forma diferente”. Eu considero a sua opinião, a opinião do outro. Qual é a sua experiência? Eu me abro a diferentes perspectivas. Mesmo que eu ainda entenda que a minha percepção é a melhor, ainda assim eu ouço a sua opinião, e não somente os maiores experts do campo. “Vamos concordar em discordar”, é algo que é aceito e assumido nesse nível evolutivo. A discordância é aceita. E isso é uma diferença enorme com relação ao nível anterior, pois agora estou aberto a investir na colaboração e a olhar para dentro, e pensar sobre a minha experiência e a sua experiência como oportunidades para solucionar problemas e encontrar soluções.

Nessa amplitude, a pessoa procura independência total para tomar as melhores decisões racionalmente, escolher e assumir atitudes de autodeterminação de suas próprias regras, condutas e resultados esperados. Ela deseja, de forma objetiva e racional, assumir o controle e a responsabilidade por tudo o que faz e realiza no mundo, mesmo que isso signifique ter que lidar com muitas tarefas ao mesmo tempo, como trabalho, família, filhos, lazer, esporte, educação, etc.

A ênfase desse nível é na escolha e no resultado, muito mais do que na competência ou melhoria do processo. O maior medo desse nível é falhar, não concretizar os planos e não atingir o resultado, e existe um receio de ficar desamparado, ou seja, incapaz de agir por conta própria e não ter escolha. Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona à forma mais avançada do nível LARANJA de consciência, que foi o nível que puxou a nossa evolução como humanidade a partir do século XVI até o início do século passado, em meados de 1900. Seguindo a mesma metáfora anteriormente descrita, esse nível corresponderia portanto à segunda metade do nível laranja, comparável a um doutorado, onde o estudante elabora a sua própria teoria e a coloca à prova, contribuindo de forma inovadora para o seu campo de pesquisa e estudo. Atualmente, junto com o nível anterior, esse é o nível laranja, que normalmente chamamos de “moderno”, empreendedor, inovador e realizador. O nível laranja é a visão de mundo fundamental pela qual foram construídas as bases do capitalismo, modelo econômico predominante no nosso momento atual.

Com relação ao COVID-19, as atitudes que se relacionam a esse nível são de analisar as informações disponíveis e encontrar a “verdade” objetiva, desmistificando mitos e medos infundados. Alguns exemplos são de combater as informações que diziam que crianças não poderiam ser infectadas, quando na realidade elas podem, assim como aquelas que diziam que as máscaras não previnem as pessoas de pegar o vírus, questionando a sua utilidade, assim como os diversos medicamentos que estão sendo testados. O foco é no resultado efetivo, no que realmente funciona, e encontrar soluções em uma escala mais ampla, como equipar hospitais, produzir e distribuir máscaras e respiradores e mobiliar pessoas para solucionar os problemas. As ações de algumas empresas de redesenhar suas linhas de produção para começar a produzir esses produtos necessários atualmente também é uma manifestação desse nível de consciência.

Percebam assim que, a partir desse nível, o vírus não é mais um inimigo a ser combatido a todo custo, mas algo que precisa ser cientificamente estudado, para que juntos possamos encontrar soluções para esse desafio global. Se juntarmos nossos esforços, e cada um fizer a sua parte, conseguiremos enfrentar essa pandemia.

Voltando aos níveis evolutivos de consciência e maturidade, até agora exploramos os quatro primeiros. Cerca de 80% da população mundial atua predominantemente entre o segundo e o quarto níveis. Nos termos da Espiral dos Níveis de Consciência, isso fica entre os níveis azul e laranja. Isso significa que a grande maioria das reações que você teve ao COVID-19 provavelmente se encaixam em alguns desses 4 níveis que detalhamos anteriormente.

Os próximos quatro níveis representam um salto imenso de consciência, transcendendo a visão convencional dos quatro níveis anteriores. Da sobrevivência (primeiro nível), conformidade (segundo nível), conhecimento (terceiro nível) e independência (quarto nível) passamos para a interdependência (quinto nível), a exploração externa e interna (sexto nível), o questionamento existencial (sétimo nível) e a testemunha da sabedoria da vida (oitavo nível).

5. Self-questionning (Verde)

No nível anterior, a pessoa começa a estar mais aberta a outras perspectivas, mas ainda está presa à sua realidade, que é a correta e mais adequada, em sua visão. Se a pessoa está interessada pelas ideias dos outros e não concorda, ela vai aceitar que há uma discordância, porque isso é lógico. A partir do quinto nível evolutivo (Self-questionning | Verde), entretanto, a pessoa percebe que a sua compreensão está condicionada pela cultura e contexto no qual ela está inserida. Ou seja, eu percebo que a minha visão de mundo é resultado da cultura em que vivo, a cultura da minha família, da minha educação, da minha profissão, do meu país, entre outras. E é por isso que eu acredito no que acredito, e faço o que escolho fazer. E agora eu entendo que você acredita no que acredita, e faz o que você faz, pelo mesmo motivo. Portanto, quem sou eu para dizer o que é certo ou errado, ou o que é melhor ou pior? Eu percebo agora que nós dois estamos certos, nós dois podemos ter resultados melhores e ao mesmo tempo diferentes. Há mais do que uma verdade. E isso é um salto imenso de consciência.

Então por exemplo, se uma empresa tem colaboradores desmotivados, a solução apresentada nesse nível não será convencional, típica dos níveis anteriores, como oferecer uma premiação financeira ou dar um treinamento operacional. A solução tomará em conta a cultura organizacional, a perspectiva dos líderes, o sentimento e percepção dos próprios colaboradores, o que eles trazem para o contexto, até mesmo a cultura presente em seus lares e vidas pessoais, assim como a própria interpretação do decisor ou dos decisores da solução nesse processo.

A grande motivação nesse nível é RELATIVIZAR e CONTEXTUALIZAR a realidade. Tudo é relativo. Tudo é contextual. De acordo com cada contexto, a verdade pode tomar várias formas. A verdade depende. E todas as verdades coexistem. Considere aquelas imagens em que podemos ver, no mesmo desenho, por exemplo, uma moça e uma mulher mais velha. As duas verdades coexistem ao mesmo tempo. Tem uma moça e uma velha ali, tudo depende de como estou enxergando. E uma vez que você vê as duas, não consegue mais ver uma só. As duas coexistem. É relativo. E essa é a realidade. O mesmo funciona para questões diplomáticas entre países ou regiões, por exemplo. Cada um tem uma verdade sobre os fatos, e ambas coexistem. Para quem acompanha livros de sagas que tem uma conotação mais política, também conseguem perceber isso. Quem leu, por exemplo, os livros da Saga do Game of Thrones, percebe ali diversas perspectivas sobre o mesmo fato, cada reino tem sua interpretação e suas verdades, baseadas em sua cultura e forma de ver o mundo. A pessoa percebe assim, pela primeira vez, a interdependência entre os diversos elementos e perspectivas que formam a realidade.

Indo um pouco mais a fundo nessa perspectiva, começamos a entender que, por causa dessa influência do nosso contexto em nossa visão de mundo, somos nós que criamos o significado das coisas. Quando eu realizo algo, abro uma empresa, desenvolvo um produto, crio um procedimento, o resultado foi uma criação baseada na interpretação de tudo o que eu vi e percebi. E para tudo o que eu vi e percebi, um criei um significado com base em minhas crenças, valores, emoções, pensamentos e visão de mundo. Então se eu não existisse, esse significado e esse resultado não existiriam. Tudo o que vejo é a compreensão que tenho do que vejo. Livre de mim, não há significado nem interpretação. E isso vale para todas as outras pessoas. Agora que eu entendo o meu condicionamento e minha programação, o que define a minha visão de mundo, eu me torno mais interessado na história do outro: quem é você, de onde vem, o que faz, o que pensa, o que traz. Ou seja, tudo é relativo, tudo depende do contexto no qual está inserido, incluindo o contexto externo e interno.

Não há assim controle “real” sobre o mundo. No nível anterior eu realizo coisas e tenho resultados. Nesse nível, eu entendo que não sou somente eu a variável. Há diversos elementos que influenciam o resultado, e todos devem ser considerados. A necessidade de planejamento é menor, porque estou mais aberto e curioso a investigar o que está emergindo. Adoto uma atitude mais interpretativa, emergente, investigativa e aberta. E agora eu me sinto pronto para questionar todo o sistema. O foco em resultados perde a importância que tem no nível anterior, e tem menos sentido e significado para mim. O foco é maior agora no SER do que no FAZER. E ao contrário dos níveis anteriores, a incerteza é aceita, considerada e integrada, e não é mais algo a ser controlado.

Normalmente esse nível de consciência está emergindo ou latente quando as pessoas sentem uma necessidade de encontrar um maior significado e propósito na vida profissional. Muitas pessoas que procuram migrar para o campo do impacto social (sustentabilidade, ESG) estão ativando esse nível de consciência, e começam a questionar todo o sistema no qual estão inseridas. Há uma liberdade pessoal imensa, pois a pessoa se sente livre do que a sociedade “obriga” ela a fazer, pois agora ela enxerga as diferentes possibilidades. Liberdade para ser quem sou, e mais conforto comigo mesmo.

Por outro lado, agora que enxergo tantas perspectivas e possibilidades, com qual então eu vou me alinhar? Esse é o principal desafio desse nível de consciência. Essa multiplicidade de perspectivas pode levar à desorientação, porque agora não há mais a referência, a âncora que serve de ponto seguro. Existem vários portos seguros, mas em qual vou ancorar? Eu não sei. Quem vai saber? Tudo depende das percepções e interpretações, minhas e dos outros. Muitas pessoas que atingem esse nível, dependendo de seus perfis de personalidade, por exemplo, começam a ter dificuldades de tomar decisões e assumir uma posição, porque não entendem como vão escolher diante de tantas verdades.

Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona ao nível VERDE de consciência, que emergiu no início do século passado, principalmente estimulado pelas fronteiras que a própria ciência atingiu, como a física quântica e a teoria da relatividade, sendo caracterizado como o nível “pós-moderno”.

No caso do COVID-19, esse nível se expressa pelo interesse genuíno em explorar e discutir as experiências e histórias das pessoas, muito mais do que fatos ou análises técnicas. A pessoa se preocupa com desigualdades e injustiças, com as pessoas em situação de extrema pobreza, os autônomos que ficaram sem trabalho e os micro empreendedores perdendo seus negócios, por exemplo. O que eles estão passando, o que estão sentindo e o que se passa em suas vidas. O interesse não é se eles são heróis ou não, mas como estão atravessando essa fase difícil. A pessoa se torna assim uma ativista social no contexto da pandemia, podendo até mesmo questionar a intenção de algumas empresas de começar a produzir produtos para a pandemia. Qual o contexto e a motivação resultante: lucro ou ajudar? Ou ambos? Isso acontece porque a pessoa nesse nível pode chegar a rejeitar o nível anterior, que é focado totalmente em resultados, e não integra essa visão à sua. E esse se torna, na realidade, o maior problema desse nível de consciência, que apesar de aberto à diferentes perspectivas, acaba excluindo ou não respeitando as pessoas que atuam nos níveis anteriores, menos complexos de consciência.

Mesmo assim, atingir esse nível de consciência representa dar um salto evolutivo sem precedentes. É uma visão mais intuitiva do que objetiva e racional, preocupada, no exemplo anterior, com o efeito da ansiedade e do isolamento nas pessoas. No caso do manual da Toyota, uma pessoa atuando nesse nível de consciência consideraria essa visão nos procedimentos e instruções descritas. Nesse nível, a pessoa também reconhece que as suas próprias reações são originadas em seus próprios condicionamentos pessoais e culturais. Vamos citar alguns exemplos de expressão dessa perspectiva, destacados pela Beena Sharma. Primeiro, uma frase dita por Barack Obama que exprime esse nível: “Fale a verdade. Fale com clareza. Fale com compaixão. Fale com empatia pelo que as pessoas estão passando. Quanto menos envergonhado você for para perguntar, melhor a sua resposta será”. Essa frase exprime justamente a intenção de compreender a experiência e a vivência do outro sobre o que está passando. Uma outra frase que exprime esse nível evolutivo é: “a maior perda será se, no final, sairmos disso inalterados”. Nesse caso, a ênfase está na mudança pela mudança, pelo nosso crescimento como sociedade, e não para atingir um resultado concreto, conquistar ou entregar algo, nem para fazer algo que é certo ou errado.

E um texto, criado pela escritora Emma Zeck, também traduz esse nível de consciência e maturidade:

“Com esse tempo aberto, você não tem que escrever o próximo livro de sucesso, você não tem que ficar em forma como nunca ficou antes, você não tem que começar aquele podcast.
O que você pode fazer, no entanto, é observar essa pausa como uma oportunidade.
Os mesmos sistemas que vemos desmoronando na sociedade estão sendo chamados a desmoronar dentro de nós individualmente.
(…)
E se nos tornarmos curiosos nesse tempo livre e não termos outro objetivo do que [simplesmente] experienciarmos sermos [nós mesmos]?
E se você se permitisse descansar e chorar e rir e jogar e ficar curioso com o que emergir em você?
E se nosso verdadeiro propósito está nesse espaço?”

Esse texto traz uma reflexão sobre sair da mente preocupada com o resultado, típico do nível anterior, e adotar uma perspectiva de relatividade e contexto, olhando para nossa própria experiência e vivência nesse período, típica desse quinto nível evolutivo. A Emma não está vendo a pausa pelas lentes convencionais dos primeiros quatro níveis, mas dessa nova lente mais humanizada e aberta que se abre a partir do quinto nível.

6. Self-actualizing (Amarelo/Integral)

No sexto nível evolutivo (Self-actualizing | Amarelo/Integral), o ser humano integra o nível anterior, em que existem múltiplas perspectivas e tudo é relativo, mas aceita, integra, supera e transcende esse nível e todos os níveis anteriores, entendendo que, mesmo assim, existem perspectivas ou verdades que são mais complexas, mais ricas, mais abrangentes e até mesmo mais absolutas que outras. Por exemplo, a minha perspectiva atual sobre os impactos do COVID-19 na minha vida pode ser mais simplória do que uma perspectiva que toma em consideração o futuro das novas gerações. E nesse novo nível de consciência e maturidade, eu aceito que possa existir essa hierarquia, ou melhor, uma holocracia, entre diferentes perspectivas. O nível anterior ainda não consegue aceitar e integrar todos os níveis anteriores, e portanto pode exprimir uma profunda rejeição ao conceito das hierarquias naturais de complexidade. E esse é o enorme salto evolutivo desse sexto nível: pela primeira vez, a pessoa se torna consciente que os níveis de consciência existem!!!

Assim, sendo capaz de integrar essas diferentes perspectivas e entender que possuem complexidades diferentes, a pessoa se torna capaz de escolher entre as perspectivas, e até mesmo excluir ou ignorar aquelas que são menos dignas de atenção, e que servirão menos para transformar a realidade interna e externa em benefício de um propósito maior universal. Emerge assim uma vontade de se posicionar e de fazer uma escolha, e para conseguir fazer isso, a pessoa começa a integrar em seu pensamento tanto o princípio de considerar “ambas/e” todas as perspectivas como o princípio do “uma ou outra” dessas perspectivas. Os dois princípios coexistem e interagem.

Nesse nível, o senso de horizonte temporal se expande, e minha reflexão vai além da minha vida, considerando e se preocupando com as gerações futuras. Se destaca também a interrelação sistêmica de sistemas e seus objetivos e efeitos de longo prazo. Consideram-se assim as situações, por exemplo do COVID-19, e suas conexões com diversos meta-sistemas, incluindo suas interconexões, como política, economia, saúde, bem-estar, etc. E essas interconexões não são simplesmente de causa-e-efeito, mas são relações de extrema complexidade.

Emerge também a importância de reinterpretar essas situações de forma sistêmica considerando a previsão de cenários futuros e de consequências não previstas, assim como o interesse em explorar sombras individuais e coletivas. Nesse nível, a pessoa é capaz de ir ainda mais fundo nos aspectos interiores, e se tornar consciente não somente de sua condição interna, mas também de refletir sobre o que ela não sabe que não sabe dela mesma. Ou seja, seus pontos-cegos, o que ela ainda não tem a mínima ideia sobre sua evolução: o que ela não sabe que ainda não sabe. Nesse nível, o ser humano se “auto-dá conta” e se “auto-permite ser”, em uma empolgação máxima de descobrir o que ainda não sabe. A maior motivação é o conhecimento, o aprendizado, a sensação de evolução. Isso é mais importante do que estar satisfeito, certo, gerando resultados ou incluindo todas as pessoas. A pessoa se torna assim muito mais objetiva em sua descoberta interna, e mesmo que descubra elementos negativos sobre si, ainda sim é uma empolgante exploração. Para quem já participou de exercícios e práticas sistêmicas e constelativas, essa é uma prática típica desse nível e dos níveis mais complexos.

Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona ao nível AMARELO de consciência, que é justamente definido como o nível Integral. A pessoa se torna integrada e integrativa, sempre atenta ao todo e à maestria desse todo complexo e sistêmico, sendo capaz de agir a atuar nessa complexidade.

Com relação ao COVID-19, a pessoa se torna mais consciente dos padrões e tendências globais, da colaboração entre nações para fazer emergir soluções inovadoras e criar novas culturas e uma nova sociedade. Ela se concentra também nas mudanças nos estilos de vida que foram impactados pelas quarentenas, procurando ser uma catalisadora de crescimento em nível pessoal e sistêmico. Agora a pessoa não se interessa somente pelas histórias das pessoas, mas em como as situações atuais e as soluções vão impactar o coletivo, a nova sociedade e a nova cultura que vai emergir. O foco é em compreender, experimentar, participar e atuar na transformação do novo coletivo. Isso significa não se concentrar, por exemplo, na vacina, mas em como o novo estilo de vida que surgir não vai criar novos problemas para a nossa sociedade no futuro. Alguns posicionamentos identificados pela Beena Sharma descrevem bem essa forma de pensar. “Uma grande questão sobre a pandemia do coronavírus é quanta mudança ele vai deixar em sua aparição. Nós estamos no meio de uma transformação massiva e potencialmente revolucionária da nossa sociedade? Pode uma pandemia reconstruir a sociedade?”. Essa é uma pergunta desse nível integral de consciência e maturidade. Não é somente sobre ser compassivo e se comunicar com empatia, típicos do nível anterior, mas sobre a estrutura e a filosofia por trás dessa estrutura que está emergindo.

Outra citação representativa desse nível é um post do Twitter: “A última vez que eu fiquei em quarentena por oito dias, eu entrei um menino e saí um homem. O #Kenya vai com certeza emergir mais madura quando tudo isso estiver acabado”. Percebam a consciência presente no nível individual, quanto ele diz que entrou na última quarentena que viveu como um menino e saiu um homem, e em seguida relaciona essa experiência com todo o seu país. É uma perspectiva desse nível evolutivo.

O texto de Jeff Vander Clute também representa esse nível: “Os presentes do vírus: reduzir as frenéticas atividades humanas, ativar redes de cooperação, propagar avanços sobre o DNA, aperfeiçoar o sistema imunológico da humanidade, criar condições para paz e bem-estar e salvar vidas, especialmente no longo prazo, por fortalecer a rede da vida”. Para os níveis convencionais, o vírus é basicamente um problema a ser resolvido. Agora, nessa perspectiva integral, ele se torna uma oportunidade para encontrarmos soluções que trarão benefícios muito maiores do que simplesmente curar o vírus. No texto anterior de Emma Zeck, ela fala sobre os presentes da pausa, de encontrar propósito e a si mesmo no silêncio. Nesse nível, os presentes são ainda mais profundos e amplos. Não se fala do sistema imunológico individual do ser humano, mas de toda a humanidade, pois somos todos partes de um organismo vivo. Assim como todas as bactérias do nosso corpo, que formam o todo que somos nós, Gaia, a Terra, que comporta a humanidade, é um corpo formado por nós, seres humanos. É essa visão superior que está presente nesse nível de evolutivo.

Esse outro texto também traz uma perspectiva desse nível integral: “O COVID é um mensageiro do futuro com ensinamentos inevitáveis, que veio para nos acordar de nosso sono [ingênuo]. O COVID ensina unidade. Nós estamos nus em nossos medos diante de sua aparição. Será que nós podemos limpar as nossas percepções e julgamentos? O COVID traz luz à nossa interdependência. Nós inter-vivemos juntos, continuamente. O COVID é implacável, e está em movimento, resetando todos os campos. Há pouco tempo para acordar e estarmos presentes aqui como seres humanos completos. O tempo é agora. Acorde. Se apresente. É o único dia que você tem, em toda a eternidade”. Esse texto representa uma significação do COVID pelas lentes desse nível de consciência e maturidade.

Outra reflexão relacionada é a percepção do que estamos perdendo, com o falecimento de tantas pessoas idosas durante as primeiras fases da COVID-19, e que talvez só saremos falta em 10 ou mais anos. “Toda vez que uma pessoa idosa falece, uma biblioteca se queima. Infelizmente, parece que vamos provavelmente perder mais dos nossos seniores nos próximos anos do que esperado. E deveríamos fazer tudo o que podemos para prevenir isso. Como? Pense nas pessoas idosas que você conhece. Pergunte a elas se você pode entrevistá-las e gravar a entrevista. Pergunte sobre o que a sociedade ganhou e perdeu durante suas vidas. E o que tende a se repetir. Pergunte sobre as grandes escolhas da vida e o que foi mais significativo para elas”.

Percebam assim o potencial que esse nível integral possui de reconstruir a sociedade a partir de um olhar evolutivo para o COVID-19.

E agora, para os próximos dois últimos níveis, se prepare para ir ainda mais profundo na complexidade da nossa percepção sobre a realidade. Esses níveis são mais complexos, pois normalmente ativamos com pouca frequência essas formas de pensar, ou ao menos não estamos acostumados a usá-las em nosso cotidiano. Portanto, se precisar agora fazer uma pausa para tomar uma água ou um ar, pode fazê-lo, porque vamos entrar em níveis profundos de reflexão.

7. Contruct-Aware (Turquesa)

O sétimo nível evolutivo (Contruct-Aware | Turquesa) é caracterizado por um questionamento completo sobre nossos constructos, que são nossas construções puramente mentais da realidade. No quinto nível evolutivo (Self-questionning/Verde), consideramos uma visão plural de diversas perspectivas, mas não temos a facilidade em nos posicionar. No sexto nível (Self-actualizing/Amarelo/Integral), nos posicionamos com convicção porque identificamos que algumas perspectivas são mais absolutas, completas e complexas que outras. Por exemplo, a perspectiva de que o COVID pode contribuir para nossa compreensão de interdependência e portanto para a evolução da nossa humanidade. E nesse sétimo nível, eu percebo que essas perspectivas absolutas podem ser desafiadas por novas experiências que tenho sobre a realidade. Basicamente, eu me dou conta, com um grande choque, que essas perspectivas absolutas são constructos. Ou seja, são minhas ideias, que eu criei, mesmo que tenha aprendido e incorporado.

Então aparece um novo questionamento: O que é realmente verdade? E não somente para fora, mas também para dentro. O que eu penso que sou também é um constructo. Agora eu entendo que toda essa construção de significado dos níveis anteriores é tudo a minha criação, uma narrativa que eu mesmo criei.

E eu me dou conta que a linguagem que uso para descrever as coisas e criar os meus constructos é em si uma limitação. Se eu descrevo uma esfera como uma esfera, eu estou limitando o que é a esfera pela minha linguagem. Afinal, no fundo a esfera é um conjunto de átomos, que é um conjunto de nêutrons, prótons e elétrons, que são feitos de quarks… e assim por diante. Pense no filme Matrix, quando Neo consegue “ver” a matrix, ele vê um código de programação. Mas mesmo o conceito de quarks limita o entendimento a um constructo do que é um quark. Então, nesse nível, eu percebo que estou diante de um profundo desafio para compreender a realidade: esse desafio é o meu hábito de linguagem, que possui um modo de julgamento automático intrínseco a ele. Os conceitos que uso para descrever a realidade fazem ao mesmo tempo um julgamento sobre a realidade. Eu percebo e entendo a natureza construída da realidade.

E então eu percebo que tenho uma ideia sobre o mundo, o universo e a vida. Mas que eu penso que essa ideia é a realidade. E então percebo que essa ideia é somente uma imagem que eu fiz da realidade, e não a realidade em si. Novamente, pense no filme Matrix, a cada etapa Neo tem uma percepção nova do que é a realidade. Os constructos dele vão se desfazendo um a um, e percebemos que a visão de antes era uma ilusão. Então todas as minhas ideias são uma ilusão. E acreditar na ilusão (ilusion) é um delírio, uma desilusão (delusion). É a decepção e o desencantamento de me auto-enganar. Minhas ideias sobre a realidade estão me enganando e estou me iludindo com elas. Eu estou consciente de todos os meus filtros e de que tudo o que está acontecendo é parte de um mesmo organismo.

Na prática, uma pessoa ativando esse nível de consciência e maturidade está consciente desses filtros que criam a sua própria realidade ilusória, e vê os “desastres”, como o COVID-19, como uma parte natural de sistemas vivos. Também compreende que existem elementos visíveis e invisíveis que compõem os sistemas. Por exemplo, o ar que respiramos é invisível. E ele é justamente a parte fundamental que nos mantém vivos. Tudo é considerado, o visível e o invisível. E essa percepção permitirá reconstruir a realidade, via um questionamento profundo e constante da mente. Assim, enquanto o nível anterior busca a Maestria de compreensão do todo complexo e sistêmico, privilegiando a amplitude e correndo o risco de não mais notar nem distinguir e até mesmo negligenciar as partes, esse novo nível considera todo esse Mistério que caracteriza nossa consciência suprema e todas as partes. Ter a Maestria de algo é uma ideia, portanto uma ilusão. Eu sou uma ideia, e portanto uma ilusão. Tudo é uma ilusão. Então ativar e atuar nesse nível chega a ser uma loucura, porque você percebe a complexidade no seu máximo. Ou, ao menos, no máximo possível desse nível de consciência, que também é um constructo.

Mas ainda assim é possível ver esse nível aplicado na compreensão sobre o COVID-19? Sim. Vamos explorar alguns constructos identificados pela Beena Sharma sobre o vírus e que se relacionam a esse nível. O primeiro é a seguinte afirmação: “O vírus é totalmente neutro, ele não é mau, nem tem um alvo específico. Nós estamos criando histórias individuais e coletivas sobre o que isso tudo significa”. Essa frase mostra bem a perspectiva desse nível. Essas histórias individuais e coletivas não conseguem capturar a complexidade que é o vírus, mas essas visões dão conforto às pessoas, pois conseguem descrever o que está acontecendo. E à medida que evoluem adotam novas linguagens para descrever a realidade, e mudam sua percepção questionando essas linguagens, em seguida adotam novas, e assim por diante.

Um texto do escritor Richard Grossinger também é uma descrição desse nível de consciência e maturidade. “O vírus tem uma inteligência intrínseca. Ele é parte de uma transmissão interdependente que inclui nossas próprias mentes e participa de um conhecimento superior. Nós somos colegas, parceiros, em um profundo diálogo ontológico. Nós estamos discutindo assuntos importantes nesse momento de transição, no nível deles, e não no nosso”. Para compreender esse texto, imagine que o vírus é parte da nossa mente, e que nós estamos dialogando com o vírus no nível do DNA. Estamos dialogando no nível do vírus, não do nosso. É outro estágio, uma perspectiva totalmente invertida.

Analise essa carta escrita por Kristin Flyntz. O título da carta é: “Uma carta imaginada do COVID-19 para os seres humanos”:

“Pare. Simplesmente pare.
Não é mais um pedido.
É uma ordem.
Nós iremos ajudá-lo.
Pararemos o carrossel supersônico de alta velocidade no qual você vive
Vamos parar
os aviões
os trens
as escolas
os shoppings
as reuniões
a frenética e furiosa onda de ilusões e “obrigações” que o impedem de ouvir nosso coração pulsante único e compartilhado, a maneira como respiramos juntos, em uníssono.
Nossa obrigação é um com o outro,
Como sempre foi, mesmo se, mesmo que você tenha esquecido.
Vamos interromper esta transmissão, a transmissão cacofônica interminável de divisões e distrações, para lhe trazer esta notícia de última hora:
Nós não estamos bem.
Nenhum de nós; todos nós estamos sofrendo.
No ano passado, as tempestades de fogo que queimaram os pulmões da terra não te fizeram pausar.

Nem os tufões na África, China, Japão.
Nem o clima febril no Japão e na Índia.
Você não tem ouvido.
É difícil ouvir quando você está tão ocupado o tempo todo, tentando manter os confortos e conveniências que sustentam suas vidas.
Mas a fundação está cedendo,
Curvando sob o peso de suas necessidades e desejos.
Nós iremos ajudá-lo.
Vamos trazer as tempestades de fogo para o seu corpo
Traremos a febre ao seu corpo

Traremos as queimaduras, brasas e inundações para seus pulmões
Para que você possa ouvir:
Nós não estamos bem.

Apesar do que você possa pensar ou sentir,
Nós não somos o inimigo.
Nós somos o Mensageiro. Nós somos o Aliado. Nós somos uma força de equilíbrio.
Estamos pedindo a você:
Para parar, ficar quieto, ouvir;

Para ir além de suas preocupações individuais e considerar as preocupações de todos;
Estar com sua ignorância, encontrar sua humildade, abandonar suas mentes pensantes e viajar profundamente na mente do coração;
Olhar para o céu, riscado com menos aviões, e vê-lo, perceber sua condição: claro, esfumaçado, esfumado, chuvoso? Quanto você precisa que ele seja saudável, para que você também possa ser saudável?
Olhar para uma árvore e vê-la, perceber sua condição: como sua saúde contribui para a saúde do céu, para o ar que você precisa para ser saudável?
Visitar um rio e vê-lo, perceber sua condição: claro, limpo, escuro, poluído? Quanto você precisa que ele seja saudável, para que você também possa ser saudável?
Como a saúde do rio contribui para a saúde da árvore, que contribui para a saúde do céu, para que você também seja saudável?
Muitos têm medo agora.
Não demonize seu medo e também não o deixe te governar. Em vez disso, deixe que ele fale com você – em sua quietude, ouça sua sabedoria.
O que pode estar lhe dizendo sobre o que está acontecendo, em questão, em risco, além das ameaças de transtornos e doenças pessoais?
Como a saúde de uma árvore, um rio, o céu fala sobre a qualidade de sua própria saúde, o que a qualidade de sua saúde pode lhe dizer sobre a saúde dos rios, das árvores, do céu e de todos nós que compartilhamos esse planeta com você?
Pare.
Observe se você está resistindo.
Observe ao que você está resistindo.
Pergunte o porquê.
Pare. Simplesmente pare.
Fique quieto.
Ouça.
Pergunte-nos o que talvez podemos ensinar sobre doenças e curas, sobre o que pode ser necessário para que tudo fique bem.
Nós o ajudaremos, se você ouvir.”

Imagine o vírus conversando conosco. Mude a perspectiva. O que ambos, nós e o vírus, estamos fazendo nesse organismo vivo da Terra? Que ensinamento para percebemos como tudo está conectado. Não estamos falando somente sobre o meio-ambiente, sobre saúde, sobre mudanças climáticas, mas estamos nos dando conta de algo muito maior. Começamos a sentir que estamos abusando da Terra e que agora estamos sofrendo as consequências que não foram previstas. O mundo está reagindo, e nós temos lutado contra nós mesmos. Estamos todos incluídos no mesmo organismo, eu, você, a natureza… e o vírus.

Outra perspectiva desse nível evolutivo é um texto que circulou nas redes sociais sobre uma visão Budista do COVID-19:

Discípulo: Mestre, é tão difícil entender o porquê de um vírus tão agressivo. Qual é o propósito?
Mestre: Aprendizado. Essa pandemia foi gerada pelo homem através das constantes violações das leis universais.
Discípulo: Mas algo tão ruim vai causar muita destruição.
Mestre: O coronavírus não é ruim. Também não é bom. É necessário, o que é muito diferente. Não há nada errado com o universo. Se o coronavírus está presente, é porque a Divindade permitiu, de outra forma ele não poderia existir. A ideia de bem e mal é gerada em sua mente, que julga a partir da sua ignorância um evento que por si só é neutro.
Discípulo: Mas tantas pessoas estão sendo infectadas no mundo, tantas outras ficarão sem comer. Muitos idosos, homens e mulheres. Isso é muito injusto.
Mestre: O injusto não existe no amor universal. Isso existe apenas em sua mente que não entende o propósito profundo. O que existe é o justo, o preciso, o exato, o correspondente e a sintonia. Existe um processo evolutivo necessário que consiste em uma coleta constante de informações. Um aprendizado enfrentando as dificuldades que a vida nos apresenta, para que, em meio ao caos e ao sofrimento gerado, descubramos o princípio do amor que se encontra na própria vida. E esse princípio de amor é o que nos libertará das limitações humanas e nos fará corresponder às experiências com muito mais satisfação e harmonia. Você precisa entender que ninguém experimenta uma experiência que não corresponde a ela. E se corresponder a ela, a viverá, seja na resistência, na cura ou na morte física.
O coronavírus não é ruim.
É uma boa oportunidade, pois muitas pessoas estão aprendendo com isso. O nível de consciência do planeta está subindo, estamos sentindo a necessidade de desenvolver grandes ferramentas de amor, como a aceitação, a apreciação e a adaptação. A paciência, a tolerância, o respeito por nós e por todos os seres vivos. Pode ser um teste difícil, mas não é ruim. Você poderá crescer graças a ele. Se você parar de ver o coronavírus através dos medos e começar a vê-lo pelo seu entendimento poderá reconhecer o valor que existe nele. Então você passará neste teste que a vida está lhe apresentando.
A decisão está em você.
Você recebeu o poder de tomar decisões através do seu livre-arbítrio, e estas serão respeitadas por todo o universo. Você pode escolher o medo ou escolher o amor. A decisão é sua. Neste momento, qual a decisão que você está tomando? Você escolheu medo ou o amor? A escolha é sua, mas terá um resultado, que também é seu e você terá que assumir. Se você decidiu pelo medo, irá gerar destruição na sua paz, na sua energia vital, nos seus relacionamentos e na sua saúde. Se você decidiu amar, passará no teste que a vida lhe apresenta e não precisará mais sofrer para o aprendizado dessa importante lição. Tenha como opção o amor, porque ele é sempre o melhor caminho.
Discípulo: E como faço para trilhar o caminho do amor e não do medo?
Mestre: Torne-se um ser imperturbável, invulnerável. Busque a sua força interior e trabalhe a sua transformação, para que sua paz e felicidade não dependam do externo. Pare de ver problemas e comece a ver oportunidades, as quais você pode aproveitar para fazer o crescimento interior. Desenvolva a aceitação. “Tudo o que acontece é perfeito, e se existe e acontece é porque tem um propósito”. “Pai, faça sua vontade, e não minha”. “Mostre-me como posso servi-lo melhor”. Aprenda a fluir, superando os obstáculos e os desafios. Desenvolva a sua capacidade de adaptação às novas situações e circunstâncias. Aja com sabedoria em vez de reagir com a incompreensão. Observe seu pensamento para que ele vibre apenas na alta frequência do amor. Isso lhe trará clareza de espírito e serenidade. Não compartilhe seus medos com os outros. Compartilhe apenas seu entusiasmo, otimismo e a sua alegria. Vigie seu verbo para que as suas palavras criem harmonia e faça com que os outros se sintam confiantes e seguros.
Faça amizade com o coronavírus.
Não o veja como algo ruim, mas como algo necessário. E fale com ele: “O que você está me ensinando?” “Você é valioso para mim e estou disposto a aprender o que você pode me ensinar”. “Assim que eu aprender, você pode ir porque não vou mais precisar de você”. Aproveite a oportunidade que a vida lhe apresenta neste momento, para fazer um trabalho interior, talvez um dos mais importantes dessa experiência.
Que a felicidade esteja sempre em sua caminhada.
O que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito.
O que traz ânimo, esperança e alegra os corações deve ser divulgado e compartilhado.”

Como isso tudo ressoa em você? Como está afetando a sua energia? Como você está se sentindo? Para quem acompanha pelos níveis da Dinâmica da Espiral, essa forma de ver o mundo se relaciona ao nível TURQUESA de consciência.

8. Unitive

Finalmente, o oitavo nível evolutivo (Unitive) de consciência e de maturidade traz uma perspectiva completamente diferente. Os 7 primeiros níveis apresentam a evolução da consciência no nível pessoal, representando a evolução do EGO, sendo o EU o ator principal e o ponto de referência. Esse novo nível é transpessoal, ou seja, transcende a pessoa, o EU, que se torna um observador. O Olhar se torna assim uma testemunha de tudo o que há, de tudo o que é. Até então, eu sinto a consciência emergindo e evoluindo na nossa MENTE. E agora eu percebo que a mente emerge e evolui na consciência, e não a consciência na mente. A mente aparece e desaparece, mas a minha consciência permanece, em toda a sua impermanência. Damos um passo para trás e identificamos conscientemente que existe a mente, e que ela surge e se dissolve, assim como tudo. Tudo é impermanente.

E nada é pessoal, o EU não se define pelo passado e pelo futuro ou por qualquer outra fronteira. O passado é uma imagem e o futuro é uma imagem. O presente é o que é, o agora é o que é. A consciência é o presente, e vendo além da ilusão do que aparece, percebemos o que está presente, e a perfeição desse momento no qual tudo emerge. Para desenvolver essa perspectiva, a pessoa se entrega totalmente em aceitação radical e total do presente. Tudo o que temos é o agora, sem limites de tempo, sem passado nem futuro. Imagine a liberdade de viver sem as amarras do passado nem a ansiedade pelo futuro, e seguir o flow (fluxo) da vida no momento presente. É praticamente isso, e, aos poucos, podemos ir treinando essa perspectiva em nós. Sempre que nos pegarmos apegados ao passado ou ao futuro, devemos trazer nossa atenção para o momento em que estamos, e sentir, muito mais do que pensar.

Nesse nível de maturidade e consciência nos sentimos simplesmente um canal, um abençoado portal físico por onde a sabedoria universal pode se manifestar no plano em que vivemos nesse momento presente. E aqui nos colocamos à serviço do Todo. Pessoalmente, eu tive a felicidade de vivenciar, até hoje, uma experiência na minha vida em que eu provavelmente estava vibrando nesse nível consciencial. Ou pelo menos, compreendi por meio dessa experiência o que realmente significa “estar à serviço do Todo”. Passei quase três anos treinando e sendo treinado para me conectar ao campo superior e poder ser um canal consciente de energia a serviço da cura energética e espiritual das pessoas. Em resumo, me tornei apto a realizar cura espiritual pela imposição de mãos e cirurgia energética. Ao receber a minha primeira paciente, um caso grave de alergia de pele, vi que já a conhecia, mas não me lembrava de onde. Como não podemos conversar durante o atendimento, não tive a chance de perguntar. Fiz o procedimento conforme eu tinha intuído, e após três semanas recebi notícias de quem a havia indicado. Fiquei sabendo que houve 90% de melhora, algo que nenhum médico tinha conseguido até então. Também descobri que a pessoa que eu tinha atendido tinha sido uma aluna minha de um curso de pós-graduação sobre Mindset de Mudança que lecionei em uma faculdade alguns anos antes. Também fiquei sabendo que essa paciente estava um pouco receosa e cética em relação a esse tipo de procedimento mais espiritualizado, mas quando viu que quem a atenderia ali, em um centro de cura energética, seria o mesmo professor dela de pós-graduação de um curso de negócios e business, ela acreditou. Se colocarmos todo o contexto de lado, se a cirurgia espiritual funcionou ou não, se foi um efeito placebo, se a doença iria melhorar independente da minha intervenção… Se tirarmos tudo isso, e simplesmente considerarmos que antes de nos encontrarmos a situação de saúde dela estava complicada, e depois do nosso encontro houve uma melhora quase que completa, eu percebi que simplesmente estando ali, parado, esperando ela, e ela me vendo, a cura veio para ela de alguma forma. Portanto, eu simplesmente estava à serviço, ali, naquele momento presente, parado, no momento que ela me viu, o que tinha que acontecer aconteceu. Ali entendi o que significa “estar à serviço”.

Evidentemente, não se trata de ficar parado e não fazer nada. Tudo ali aconteceu porque eu dei aula, eu fiz o treinamento, eu estava ali no centro de cura, e porque ela fez a pós, ela se abriu ao tratamento, etc. Mas o momento mágico aconteceu naturalmente, sem esforço. A reflexão aqui é a seguinte: precisamos agir para estarmos à serviço. Afinal, estamos vivos e atuantes aqui nesse mundo, nessa realidade. Costumo ilustrar que viver a vida é como estar nadando em um rio com correntezas gentis e aconchegantes. Se boiarmos com confiança, a água nos leva naturalmente a paisagens incríveis, mas se pararmos de nadar, podemos nos afogar. Portanto, nadando sem esforço iremos curtir todo o trajeto pelo qual a água do rio vai nos levar. Se tentarmos nadar contra a correnteza, será uma jornada difícil. Se nadarmos junto com a correnteza, será um experiência fluída e revigorante. O mesmo se aplica ao caso que ilustrei, e à compreensão desse oitavo nível de consciência. Não se trata de ficarmos parados comtemplando a vida, mas de confiarmos e nos entregarmos de corpo, mente e alma à nossa vida, que seremos um instrumento da sabedoria divina, recebendo assim todas as bênçãos que compõem esse organismo cósmico do qual fazemos parte.

Percebemos assim que não somos diferentes de nada. Nada é melhor ou pior que nada. Eu não sou diferente das outras pessoas, da natureza ou do vírus. Ele não é melhor nem pior. Eu sou e ele é. E o vírus tem tanta legitimidade de existir quanto eu e tudo o que mais existe. Percebam aqui que controle e julgamento não existem, porque tudo simplesmente é, e sou testemunha desse momento presente.

O mundo, a Terra, Gaia vai ganhar e perder, criar e destruir. Está na natureza de todas as coisas, obviamente inclusive na minha natureza, e é a forma como tudo é. O termo Tao, do Taoísmo, descreve bem essa natureza. Tao significa a ordem natural do universo, a fonte incondicional e desconhecida, o princípio que guia toda a realidade. É o processo da natureza pela qual todas as coisas mudam (impermanência) e de onde emerge uma vida de harmonia. O desafio da intuição humana é discernir esse caráter universal para perceber o potencial de nossa sabedoria individual, afinal temos essa ordem natural do universo dentro de nós, em nossa composição mais essencial.

Essa perspectiva é portanto muito mais profunda, e se difere completamente da visão convencional e tradicional de mundo. Aplicando essa perspectiva ao COVID-19, a Beena Sharma destaca um texto escrito pelo autor Jeff Foster, chamado “Você vai perder tudo”:

“Você vai perder tudo. Seu dinheiro, seu poder, sua fama, seu sucesso, talvez até mesmo as suas memórias. Sua aparência vai sumir. As pessoas amadas vão morrer. Seu corpo se desmanchará.
Mas agora, nesse momento, nós estamos em um solo sagrado e divino, onde aquilo que será perdido ainda não foi perdido, e percebemos que essa é a chave para uma alegria e felicidade indescritíveis.
Não importa quem ou o que esteja na sua vida hoje ainda não foi tirado de você.
Isso pode parecer trivial, óbvio, como nada, mas na verdade é a chave para tudo.
A impermanência já tocou a tudo e a todos ao teu redor tão profundamente, divinamente e significativamente que é merecedora da sua mais profunda e intensa gratidão.
A perda já transfigurou a sua vida em um altar”.

Entre as inúmeras mensagens que esse texto nos traz, ele destaca como experimentar alegria e felicidade indescritíveis em um momento de pandemia. Ele nos estimula a pensar como a pandemia já alterou nossas vidas em um altar, reforçando a que somos gratos, e nos provoca a entender onde vamos colocar a nossa devoção, nos convidando a reverenciar tudo o que é sagrado, nesse nível de consciência e maturidade em que somos observadores do momento presente.

Chegamos!
Nossa jornada pelos oito níveis evolutivos de consciência e maturidade atinge assim o seu ápice.
Primeiro, viemos de uma preocupação com a nossa sobrevivência e vimos reações ao COVID-19 de buscarmos segurança e garantirmos nossa vida.
Segundo, passamos por um senso de pertencimento e vimos reações de culpabilizar outros e entregar a salvação para entidades externas.
Terceiro, focamos no conhecimento e na expertise para coletar e divulgar o máximo de informações possíveis sobre a pandemia.
Quarto, atuamos proativamente procurando gerar soluções com resultado efetivo e escaláveis.
Quinto, entendemos a interdependência e nos interessamos pelas experiências e histórias das pessoas e como estão sendo afetadas pela pandemia.
Sexto, adotamos uma visão meta-sistêmica, observando as relações entre os sistemas (econômico, político, saúde, etc.), atuando nas relações complexas que envolvem o vírus.
Sétimo, questionando nossos próprios constructos e ouvindo a mensagem que vírus traz para a nossa humanidade.
E oitavo, observando, conscientes da sabedoria da vida, como valorizar a vida que temos e o momento presente, aceitando que tudo é parte de um só organismo.

Nós temos, hoje, esse presente de compreender, pelo menos em parte, a nossa evolução e como ela está presente em nosso cotidiano. Lembrando que todas essas perspectivas fazem parte de nosso desenvolvimento, que estão sempre presentes e que são, todas, necessárias de acordo com cada contexto em que nos encontramos. O convite é para olhar para si e para o todo, perceber nossas crenças, emoções, pensamentos e atitudes, assim como os resultados que temos tido na vida como consequência de todo esse conjunto. E então assumir as perspectivas que inconscientemente temos adotado, e que agora se tornarão conscientes. Conscientes de que somos um só organismo cósmico que evolui cada vez que cada uma das suas partes evolui.

Desejo à toda a humanidade uma linda jornada coletiva de evolução.

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Paulo Cruz Filho

Paulo Cruz Filho atua com impacto social, liderança integral, espiritualidade & business e expansão da consciência humana e dos negócios. Co-Fundador & Soul of Flowing da We.Flow – Together for a Better World, uma empresa B internacional voltada à expansão de consciência e de impacto de pessoas, comunidades, organizações e empresas. Atua internacionalmente pelo B Lab Global como Global Community Program Manager. Ex-Presidente do Comitê de ESG do World Trade Center Brasil Sul. Co-Fundador da AUDA – Business com Propósito & Alma. Co-Fundador da Integral Works – Business and Human Evolution. Host do Betterness Podcast. PhD em gestão estratégica de empresas sociais pela UQAM – Université du Québec à Montréal no Canadá. Autor dos livros “Liderança Integral. A Evolução do Ser Humano e das Organizações” e “Empreendedorismo Social e Inovação Social no Contexto Brasileiro”. Fundador e coordenador do programa executivo Integral Leadership Program e da pós-graduação em Empreendedorismo e Negócios Sociais na FAE Business School. Pai da Julie (5) e do Frederico (2).

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