O racismo estrutural é uma realidade que permeia todas as esferas da sociedade, incluindo o ambiente corporativo. Para lideranças comprometidas com uma transformação significativa, construir organizações antirracistas é uma questão ética, mas também estratégica. Empresas que promovem a equidade racial atraem talentos diversos, fortalecem sua reputação e conquistam um engajamento genuíno com suas pessoas colaboradoras.
Neste artigo, exploramos passos concretos para lideranças que desejam iniciar ou aprofundar essa jornada de transformação organizacional.
Por que antirracismo?
Mesmo representando 54% da população brasileira, pessoas negras ocupam apenas 4,7% das posições de liderança nas empresas. Outro levantamento aponta que 86% já sofreram racismo no mercado de trabalho; e mais de 90% delas tiveram a saúde mental afetada por essa discriminação.
O antirracismo é uma luta contra esse paradigma, e significa ir além de não ser racista: é um compromisso com a desconstrução de sistemas que perpetuam desigualdades. Nas organizações, isso significa questionar normas aparentemente neutras, identificar barreiras invisíveis e agir para construir um ambiente onde todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades.
Dados recentes mostram que equipes diversas são mais inovadoras e alcançam melhores resultados financeiros. No entanto, a diversidade só se traduz em sucesso quando há um esforço genuíno para combater o racismo e criar uma cultura inclusiva.
Passos para construir uma organização antirracista
1. Reconheça e eduque
O primeiro passo é educar-se sobre o racismo estrutural e suas implicações. Programas de treinamento sobre vieses inconscientes e história do racismo ajudam a conscientizar lideranças e equipes sobre como preconceitos podem influenciar decisões diárias.
Para lideranças, é crucial estabelecer o tom, demonstrando compromisso pessoal com a causa. Reconhecer publicamente o problema e comunicar que a organização está empenhada em ser parte da solução cria um senso de urgência e responsabilidade coletiva.
2. Realize auditorias internas
O racismo estrutural pode estar enraizado em processos aparentemente neutros. Uma auditoria interna deve examinar políticas e práticas de recrutamento, promoção e remuneração para identificar desigualdades.
Pergunte-se:
- Quem tem acesso às oportunidades mais valorizadas na sua organização?
- Existem padrões de exclusão em promoções ou no desenvolvimento de lideranças?
Revisar métricas como representatividade em cargos de liderança, taxas de retenção e feedbacks de colaboradores negros pode revelar onde ajustes são necessários.
Além disso, estabelecer metas sociais claras e mensuráveis, como o aumento da representatividade racial ou a redução de disparidades salariais, e atrelá-las a indicadores de desempenho é uma prática poderosa para impulsionar a mudança.
3. Amplie a representatividade de pessoas negras
Contratar pessoas negras em todos os níveis organizacionais, por meio de processos seletivos e ações afirmativas, é um passo essencial, mas a inclusão vai além de números. Crie ambientes onde essas pessoas possam prosperar, recebendo suporte para superar as barreiras invisíveis que enfrentam.
Isso inclui:
- Programas de mentoria e desenvolvimento de carreira.
- Garantir que as vozes de pessoas negras sejam ouvidas e valorizadas em decisões estratégicas.
- Monitorar regularmente a experiência delas por meio de pesquisas e conversas abertas.
4. Crie espaços de escuta e diálogo
A transformação começa com o reconhecimento das histórias e vivências das pessoas negras na sua organização. Momentos de escuta estruturados podem ajudar a identificar desafios específicos que passam despercebidos pela liderança.
Além disso, conduzir pesquisas de clima organizacional com foco em diversidade e inclusão pode complementar os diálogos, oferecendo uma visão mais ampla e anônima sobre percepções e experiências dos colaboradores. Essas pesquisas ajudam a identificar padrões, como áreas onde colaboradores negros se sentem menos incluídos, fornecendo dados concretos para ações direcionadas.
Ao criar esses espaços, assegure-se de:
- Ter mediadores capacitados para facilitar o diálogo.
- Garantir um ambiente seguro, onde as pessoas colaboradoras possam se expressar sem medo de retaliações.
Aqui na We.Flow, realizamos mensalmente uma Manutenção Antirracista, um encontro onde abrimos espaço para equipe discutir o tema e promover aprendizados e trocas para combate ao racismo dentro e fora da organização.
5. Comprometa-se com metas e prestação de contas
Uma organização antirracista define metas claras e mensuráveis, com prazos bem definidos. Essas metas podem incluir:
- Aumentar a representatividade racial em posições de liderança.
- Reduzir diferenças salariais entre grupos raciais.
- Implementar treinamentos obrigatórios sobre D&I para toda a organização.
Mais importante, compartilhe os resultados com transparência. Isso demonstra comprometimento genuíno e incentiva uma cultura de responsabilidade.
6. Integre a diversidade na cultura organizacional
Uma cultura verdadeiramente inclusiva celebra ativamente a diversidade. Vá além de iniciativas pontuais como o Dia da Consciência Negra. Integre o reconhecimento da luta antirracista em políticas, comunicações e valores institucionais.
7. Trabalhe Com Especialistas
A jornada para se tornar uma organização antirracista é desafiadora e contínua. Contar com parceiros experientes pode acelerar o processo e garantir que as ações sejam alinhadas às melhores práticas.
Na We.Flow, ajudamos empresas a identificar barreiras, desenhar estratégias personalizadas e implementar programas que gerem impacto real.
Assista ao nosso Webinar: Construindo uma Organização Antirracista
Este webinar foi um espaço de aprendizado e troca, apresentando experiências reais e ferramentas que podem ser aplicadas no seu negócio.
Quem participou dessa conversa?
- David Gonzaga | Gestor de Projetos de Avaliação de Impacto da We.Flow
- Mariana Karasiak | Gestora de Projetos ESG da We.Flow
- Convidada: Aléxia Diniz | Desenvolvedora .NET e Coordenadora de Diversidade Racial na ClearSale
Quem seguir?
A jornada para construir organizações antirracistas é enriquecida pela leitura e reflexão. Explorar as ideias de pessoas que pesquisam e estudam as dinâmicas do racismo, da inclusão e da justiça social oferece ferramentas valiosas nessa luta.
Aqui, destacamos nomes fundamentais que ampliam o entendimento e inspiram ações concretas.
Djamila Ribeiro
Filósofa e pesquisadora, é uma das principais vozes brasileiras no combate ao racismo e ao feminicídio. Sua atuação é voltada à Filosofia Política, com ênfase em Teoria Feminista, Relações Raciais e de Gênero e Feminismo.
Luana Genot
Publicitária, mestre em relações étnico-raciais. É Conselheira Global da L´Oréal sobre Diversidade e Inclusão, e Presidente Executiva do Instituto Identidades do Brasil – ID_BR, organização que atua na aceleração para evolução das empresas, organizações e governos na causa racial.
Monique Evelle
Empresária e jornalista, co-fundadora da Inventivos, plataforma de formação, conexão e investimentos de empreendedores no Brasil. Participa como investidora no programa Shark Tank Brasil, é uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina segundo a Bloomberg Línea e umas das personalidades negras mais influentes no mundo.
Patrícia Lima
É Presidente do Instituto Trabalho Decente – ITD, uma entidade com Sede em Salvador-Bahia e que atua com o objetivo de promover os direitos humanos no mundo do trabalho em todo o território nacional.
Cida Bento
Psicóloga e ativista brasileira, é atuante na redução das desigualdades raciais e de gênero em ambientes corporativos. Em 2015, foi considerada uma das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade.
Rachel Maia
Umas das executivas de maior prestígio no Brasil e no exterior. Construiu uma carreira bem-sucedida em importantes empresas globais como Tiffany & Co., Pandora e Lacoste. Fundadora do Instituto Capacita-me, atualmente, é Presidente do Conselho do Pacto Global da ONU no Brasil e Conselheira independente na Vale, GPA entre outras organizações.
Sueli Carneiro
Filósofa, escritora e ativista do movimento social negro brasileiro, uma das mais importantes intelectuais brasileiras. Fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra.
Emicida
Leandro Roque de Oliveira, é um rapper, cantor, compositor e apresentador brasileiro. É considerado uma das maiores revelações do hip hop do Brasil.
Liel Miranda
Executivo, foi CEO da Mondeléz, é um dos poucos que reconhece a dimensão do racismo no Brasil. É membro da Mover – Movimento pela Equidade Racial, que conta com mais de 50 empresas associadas que fomenta o desenvolvimento de carreiras e negócios de pessoas negras. Atualmente é Presidente Executivo da Alpargatas, dona da Havaianas.
Theo Van der Loo
Empresário, brasileiro e é filho de holandeses. Foi Presidente da Bayer, indústria farmacêutica. A diversidade é uma de suas principais preocupações, por isso é engajado no ativismo social a partir da sensibilização para a pauta de inclusão. Atua hoje como palestrante, conselheiro de empresas.
Lilia Schwarcz
Doutora em Antropologia Social, fundadora da Editora Companhia das Letras, é autora de importantes obras sobre raça e diversidade. Em 2024, foi eleita para compor a cadeira número 9 da Academia Brasileira de Letras – ABL.
Lia Vainer Schucman
Doutora em Psicologia social, é professora de Psicologia e pesquisadora de psicologia e relações étnico-raciais, considerada no campo acadêmico uma das maiores estudiosas sobre branquitude.
Lideranças têm um papel central na construção de organizações mais justas e igualitárias. Ao adotar práticas antirracistas, sua empresa fortalece sua cultura interna e demonstra responsabilidade social, um valor cada vez mais exigido por clientes, investidores e talentos em potencial.
Se você está pronto para transformar sua organização, a We.Flow está aqui para ajudar.