Uma nova realidade está se instaurando na nossa sociedade. Uma realidade em que nossas ações são feitas de forma consciente e voltadas para gerar e expandir impacto positivo social e ambiental. É a Era do Impacto, como destaca James Marins.
Esse novo momento recebe vários nomes, como responsabilidade social corporativa, sustentabilidade, capitalismo consciente, Empresas B, ESG, etc. São várias definições e conceitos para retratar essa nova realidade.
As grandes revoluções na humanidade ocorreram porque as pessoas sentiram uma necessidade de transformação e agiram inspiradas por um ideal para manifestar uma nova realidade. Esse movimento que nos leva a passar do “sentir” para o “agir” denomina-se atitude.
A atitude constituiu a ponte entre nossas emoções, sentimentos e pensamentos e os nossos comportamentos e ações. É uma maneira de ser e agir que nos direciona para a manifestação de uma ideia ou ideal.
E como estamos vivendo essa Era do impacto, muitas pessoas atualmente sentem uma urgência interior em agir em prol de algo maior, em assumir cada vez mais atitudes que transformem o mundo em um lugar melhor.
Depois de conviver mais de 15 anos com centenas de líderes e empreendedores sociais em várias partes do mundo, e de explorar a fundo o funcionamento do corpo, mente e alma do ser humano, percebi que é possível resumir algumas atitudes que ajudam as pessoas nesse processo de busca interior para gerar impacto positivo exterior.
Podemos assim destacar cinco grandes atitudes de uma pessoa que se torna líder em gerar alto impacto positivo nos ambientes onde vive e circula. Essas atitudes estão profundamente baseadas nas cinco atitudes de liderança integral descritas no livro Liderança Integral – A Evolução do Ser Humano e das Organizações, assim como nas cinco dimensões de uma Pessoa B, ou seja, uma pessoa que gera Benefício para o mundo. São elas: Intenção, Autorresponsabilidade, Estilo de Vida, Serviço e Intuição.
Intenção
A primeira atitude de uma liderança de alto impacto positivo nada mais é do que ser a sua própria essência.
Por mais que isso possa parecer simples, na verdade é o maior desafio da humanidade. A busca incessante por saber “quem realmente somos” e “qual a razão da nossa existência” nos guia desde nosso nascimento.
Esse é justamente o ponto de partida da nossa jornada de liderança.
Para isso precisamos agir de acordo com a nossa Intenção. Uma intenção gera uma sensação leve, um sentimento que traz uma certeza sobre o caminho a ser seguido, vem diretamente do coração e não da mente. Ela é geralmente descrita como uma ideia, um objetivo ou algo que pretendemos realizar.
Mas a intenção é muito mais do que isso. Uma intenção pura e verdadeira emerge do nosso Sentir, do nosso coração, e do alinhamento de nosso corpo, mente e espírito. Ela não é carregada de nossos desejos egóicos, dúvidas ou medos… ela é leve, simples, clara, óbvia, certeira, harmônica.
Portanto, a questão fundamental nesse ponto é: você carrega consigo uma intenção profunda para a sua vida? Ela está orientando você sobre quem você deseja ser, que impacto deseja ter no mundo e que história deseja que sua vida conte?
Se nosso caminho de vida é criar um impacto positivo no mundo e uma realidade que seja benéfica para nós mesmos, para os outros e para a natureza, estabelecer e viver uma intenção torna-se ainda mais essencial.
De acordo com o Upanishads, um texto védico clássico, que adaptamos aqui: “você é o desejo mais profundo do seu espírito. Como é o seu desejo, assim é a sua intenção. Como é a sua intenção, assim é a sua vontade verdadeira. Como é a sua vontade, assim é a sua ação. Assim como sua ação é, então é o seu destino”.
Autorresponsabilidade
Assim que estamos conscientes de nossa intenção e começamos a seguir os caminhos que nosso Sentir orienta, torna-se crucial assumir a autorresponsabilidade. Isso significa assumir as suas parcelas de responsabilidade pelos resultados produzidos em sua vida.
É o que descrevemos na Liderança Integral como o(a) “Guerreiro(a)”, em contraposição à atitude de “Vítima”.
“A Vítima busca manter sua autoestima se declarando inocente a respeito dos problemas que acontecem a si ou em seu ambiente, buscando responsabilizar os outros ou fatores que estão fora do seu alcance pelos resultados indesejados. Para as vítimas, os problemas sempre advêm de externalidades e nunca de suas próprias decisões ou comportamentos”.
Ao atuarmos com Impacto Positivo muitas vezes atuamos inspirados por fazer o bem, mas nossas ações podem causar externalidades negativas inesperadas.
Um exemplo é um caso real que aconteceu em uma formação sobre igualdade de gênero em escolas públicas, quando uma das alunas, inspirada pelo que ouviu e aprendeu em sala de aula, voltou para casa e questionou os pais sobre o irmão não participar das tarefas domésticas, assim como o pai fazia. Enfurecido, o pai dirigiu um tapa à menina, que ficou com o rosto marcado.
No dia seguinte, ao saber o que tinha acontecido, os responsáveis pelo projeto assumiram sua responsabilidade e iniciaram um novo projeto de conscientização dos pais.
Esse caso ilustra a importância dessa atitude.
Além de não atribuírem seus fracassos a fatores externos, líderes guiado(a)s pela autorresponsabilidade não terceirizam a responsabilidade. Se pedem a alguém da sua equipe para fazer algo, continuam responsáveis pela atividade em questão. Se a pessoa delegada falhar, a liderança também falhou, afinal, foi ela quem delegou a tarefa.
Essa atitude estimula a confiança nas relações.
Da mesma forma, a atitude de autorresponsabilidade nos permite perceber a influência que exercemos em nosso ambiente potencializando o impacto positivo de sua liderança.
Estilo de Vida
Cada um(a) de nós desenvolveu um Estilo de Vida ao longo dos anos. Podemos não ter feito isso de forma totalmente consciente, mas vivemos todos os dias uma vida que define nosso impacto no mundo.
Como é o seu estilo de vida?
Ele beneficia você mesmo(a), as pessoas e o planeta?
Ou ele mais usa, desgasta, explora, extrai e gera resíduos?
Nosso Estilo de Vida reflete aquilo que acreditamos ou que estamos, por passividade e muitas vezes preguiça, nos deixando acreditar.
Por Estilo de Vida entendemos o modo de vida que estabelecemos para nós mesmos, e que também é influenciado por nossas famílias, trabalho, amigos, cultura e sociedade. Inclui todos os nossos comportamentos, interações, formas de consumo, as atividades com as quais nos engajamos e nosso trabalho.
Você já pensou no impacto social e ambiental de seu próprio estilo de vida?
E de sua família, amigos, comunidade e país?
Para atuar com integridade e ser um(a) líder de impacto positivo precisamos dar o máximo de nós mesmos pelas nossas causas, sempre guiado(a)s pelos nossos valores pessoais.
Em resumo, significa atuarmos com base naquilo em que acreditamos e conectados ao presente.
Serviço
Ao seguirmos essa jornada evolutiva da liderança para o impacto positivo, começamos a perceber que tudo é sobre nós mesmos, e, ao mesmo tempo, tudo não é sobre nós mesmos.
Começa a surgir um entendimento de que estamos aqui para algo muito maior. Somos parte de um todo e estamos aqui a Serviço desse todo. É por puro amor e naturalidade, não por obrigação ou imposição.
Serviço significa alinhar nossas decisões, comportamentos e ações para beneficiar toda a humanidade. Basicamente significa nos colocarmos à disposição para servir aos outros, em alinhamento com nossa intenção mais elevada. Nesse nível, tomamos consciência de nossa interdependência, que é um componente-chave para estarmos verdadeiramente à serviço.
Quando duas coisas ou seres são interdependentes, significa simplesmente que são dependentes um do outro, assim como qualquer um de nós depende de outras pessoas para sobreviver, viver e evoluir.
Pense em algo material de que você realmente gosta ou ao qual é muito apegado(a). Pode ser sua casa, seu carro, um brinquedo, uma lembrança, um livro ou até mesmo comida, como um chocolate ou uma fruta. Agora rastreie todo o processo que o produziu e o levou até você.
Você descobrirá que uma grande quantidade de pessoas, tecnologias e equipamentos são necessários para satisfazer as suas próprias necessidades. E você sentirá e compreenderá o que é interdependência.
Essa percepção da interdependência nos remete à virtude da Humildade. A Humildade é o caminho do meio entre a arrogância, e a apatia ou passividade.
Quando atuamos sem arrogância e sem apatia, permanecemos abertos às interpretações dos outros acerca do que está acontecendo.
Com isso, deixamos de lado o papel do controlador, que tenta sempre impor os seus pontos de vista, e o da vítima, que não força de reação, e nos abrimos a ouvir, escutar e entender os pontos de vistas das outras pessoas sem um julgamento prévio acerca de sua validade, e nos posicionando a partir da nossa percepção consciente.
E isso abre caminho para reconhecermos oportunidades de gerar e liderar impacto positivo no mundo.
Intuição
Ao incorporar as quatro atitudes anteriores, uma pessoa já consegue atingir um nível elevado de contribuição e geração de impacto positivo para si, para as pessoas e para o planeta.
Como ir além das ações positivas, do impacto benéfico gerador, da contribuição para a sociedade e para nosso planeta? É nesse momento que a quinta atitude essencial emerge e torna-se a condição indispensável para que todas as outras atitudes atinjam o seu potencial máximo: a Intuição.
A Intuição basicamente é um Sentir que não pertence aos cinco sentidos tradicionais. Esse sentir da intuição nos habilita a sabermos algo intuitivamente, ou seja, sem uma análise racional e mental.
Sabe quando você entra em ambiente e sente que algo está errado? Ou quando você sente que pode confiar em uma pessoa? Ou sente que uma situação não é a ideal? É a intuição.
Muitos adeptos da neurociência puramente técnica afirmam que tudo são percepções do cérebro. Nossa intuição é sim transmitida pelo sistema nervoso, mas não são nossos olhos, tato, olfato, paladar nem audição que captam a intuição. Ela é sentida, e algumas de suas principais portas de entrada são o coração e o intestino, que são considerados outros “cérebros” do nosso corpo, pois processam informação recebida por esse “sexto sentido”.
A intuição nos fornece um sistema de navegação interior inato, que se baseia em nossos valores mais profundos e que fornece parte integrante do que nos conecta a todos os sistemas naturais. Isso nos fornece resiliência interior, para navegar em tempos de complexidade, onde a adaptação é crítica.
Sintonizar nossa intuição é como construir um músculo, quanto mais o usamos, mais forte ele se torna. O papel de nossa intuição está sempre evoluindo e não é facilmente descrito na linguagem. Muito disso permanece no sentido sentido. Um ‘instinto’ ou um ‘conhecimento interior’.
A intuição permite a integração do instinto, uma de suas expressões mais primitivas, com a razão mental, mas com suas particularidades próprias. Ela pode se expressar pelos cinco sentidos, ou até mesmo por aquela voz interior que fala contigo o tempo todo, mas ela é sutil, certeira, pacífica e simples ao mesmo tempo.
Como estimular a intuição?
- Deixe a sua imaginação fluir. A criatividade é uma expressão da intuição, e quanto mais você exercitá-la, mais vai abrir caminho para que a intuição se expresse.
- Medite. Separe um espaço de tempo para ficar em silêncio e conectado contigo, e deixe vir o que tiver que vir. Se tiver coragem, faça uma pergunta e espere a resposta.
- Estimule a sua memória, ela ajuda a você se tornar mais observador e assim estimular a recepção da intuição. Faça exercícios para lembrar nomes de pessoas, fatos históricos, tente ir a algum lugar sem GPS.
- Escute músicas que estimulam ondas cerebrais theta também estimulam o corpo a estar em contato com frequências favoráveis à intuição.
- Invista em autoconhecimento e explore ao máximo a sua intuição, o seu Sentir. Ao conseguir estimular e se conectar com essa virtude, o impacto positivo que você vai gerar no mundo será sem precedentes.
A intuição é um processo altamente profundo que integra nosso corpo, mente, alma e espírito.
Embarque nessa jornada com a gente e vamos agir juntos, por um mundo melhor!!